Um iogurte por São Bento!

Fiquei um ano sem vir a São Bento. É tempo suficiente para que uma porção de coisas aconteça sem que eu fique sabendo. Agora eu caminho pelas ruas e vou percebendo o que há de novo. Será possível que São Bento não pode ficar quietinha de um ano para o outro, até eu me acostumar com todas as mudanças? Toda vez que eu chego percebo que novas lojas foram abertas, velhas lojas foram fechadas, prédios foram reformados ou demolidos – isso sem falar em mudanças mais bruscas, como a mão de ruas.

Mesmo com todas as mudanças, é com desenvoltura que caminho pela cidade. Pelo menos o centro da cidade, onde todas as coisas são absurdamente perto – em vinte minutos, eu cruzo a maior parte dele. No mesmo tempo, eu mal sairia do lugar em Brasília. E vou caminhando tranquilamente, sem reconhecer e nem ser reconhecido por ninguém. É de noite, e as ruas estão movimentadas – ainda é Natal. Saí sozinho, com a desculpa de ver as luzes dessa época. Na verdade, quero mais que isso. Quero ver a cidade acontecendo, matar saudades de um lugar que, mesmo longe, também é meu.

Está lá na minha carteira de identidade: “Naturalidade: São Bento do Sul” – eu, se pudesse, acrescentaria ao final um “modéstia à parte”, assim como o Rubem Braga fazia com sua cidade natal. E se for preciso mais do que nascer na cidade, e se alguém reivindicar genealogias e tradições, eu citaria algum imigrante pioneiro, daqueles que chegaram ainda em 1873, como o Anton Zipperer e o Michael Witt, ambos meus ancestrais. Estou em São Bento desde o começo, portanto. Ah, mas se for necessário falar de coisas do coração, como será fácil para mim me apresentar como são-bentense!

Eu poderia falar justamente de como me sinto enquanto ando pela cidade, e da minha ânsia em descobrir mais sobre o seu passado. Posso falar então do meu blog de história. Da frequência com que participo dos fóruns da cidade no Orkut e Facebook. E ainda do orgulho com que visto em Brasília a camisa do saudoso São Bento Futebol Clube.

Ou posso simplesmente citar essa noite, quando decido subir a escadaria da Igreja, sem nenhum motivo aparente, apenas pelo esforço de subir, pra dizer que, mesmo morando longe, eu também sou capaz de fazer algo tão comum a quem mora em São Bento. E lá de cima eu vejo a cidade iluminada pelo Natal. Lá está a Praça Getúlio Vargas – aliás, um bom sinal de amor por São Bento é justamente querer que a praça mude de nome.

Estou sentado no degrau mais alto, e vejo crianças apostando corrida para chegar primeiro ao topo da escadaria. Vejo inclusive um pai se esforçando para acompanhar o ritmo da filha. Alguns minutos depois, chega a mãe, praticamente sem ar. Se não fosse o Heinz Zulauf, essa escadaria seria muito pior. E vendo todas as coisas, eu percebo que o momento é agradável. É bom estar ali sentado, sozinho, de noite, na minha cidade.

Decido aproveitar o momento e erguer um brinde. Pra minha sorte, estou carregando uma sacola de mercado. De lá, tiro um pote de iogurte. Pois foi isso que bebi. Um iogurte em honra de São Bento. Bebo satisfeito, observo as luzes de Natal e vejo uma estrela – uma única – brilhando no céu da cidade. Sim, eu estou feliz por estar aqui.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 22/12/2011
Código do texto: T3401573
Classificação de conteúdo: seguro