Preciso Comprar um Cocar no Brasil…
Detesto toda e qualquer forma de preconceito.
Somos livres e coloridos!
Falamos várias línguas mundo afora... E esta diversidade é maravilhosa!
É isto que não aprendemos com os animais... Pobres de nós!
Somos tão soberbos... E tão hipócritas!
Não!... Eu também não sou perfeita!
Acabamos num "efeito cascata" e pagamos sempre um mal com um mal. Não temos a menor paciência de silenciar... E ter compaixão diante da obscuridade maior do nosso próximo.
Ah... Mas eu "exijo" paciência quando trata-se da "minha"!
Eu sou paciente com os outros, ora!
Hoje... Eu perdi uma grande oportunidade de exercitar um existir melhor. Há dias que não dá mesmo.
Que pena. E pertinho do Natal...
Onde todo o mundo cobre-se de "paz".
Chegou em minha casa um senhor para instalar a fibra óptica ou sei lá o quê.
O meu marido trabalha com informática e necessita destas "tranqueiras" e velocidades... Do que eu não entendo absolutamente nada. Eu sou da "Educação".
Tenho paciência com muita coisa. E não sou uma "sem noção".
Mas falta-me paciência com a ironia de péssimo tom.
Aquela... Que faz com que eu sinto que, em minha testa, há um enorme letreiro piscando: "Eu sou uma imbecil"!
Sei que moro numa "casa" que não é a "minha". E este "lance" de "casa" é mesmo um pensamento humano e mesquinho. Aqui estou eu!
Mas respeito as "normas da casa" e os seus "donos". Não fico aqui "abrindo a geladeira" e "arrastando os pés"...
De pijamas e cabelos desgrenhados.
Mas o respeito é mesmo via de mão dupla... Ou não é?
Já mudou isso? ...
Bom... Se mudou, não me avisaram.
Então o homem entra em minha casa... Embora dentro da sua "casa"... E olha com desprezo para o controle da tv e diz:
- Sabes que necessitas de pilhas para que este comando funcione?
É... Um comando sem pilhas, minha senhora, não funciona!...
(risinho irônico no canto da boca).
A "cara" do homem olhando para mim e o seu tom jocoso... Fez acender em minha testa aquele velho "letreiro luminoso".
Isto acontece nesta "casa" várias vezes. Esta não é a primeira.
Já tentei sorrir, brincar, fazer-me de desentendida...
De doida... Mas não adianta muito. Falta o humor.
Gera outros tipos de conotações não muito agradáveis...
E ainda com o adicional do "letreiro luminoso"?
Eu não suportaria.
Hoje, eu resolvi ser diferente... E respondi:
- Mim não fala sua língua. Mim veio de floresta distante.
Homem chefe da casa está a caminho. Homem chefe da casa falar melhor a sua língua - (... silêncio total...).
Sentei-me no sofá... Peguei um livro sobre a cultura pernambucana, pus os meus óculos... E retornei, só por um instante, à minha "casa"... nas mãos do Ariano Suassuna, filho da Paraíba e "bem casado" com Pernambuco.
Imaginei então que, ao invés do "letreiro luminoso" o qual me impõem de vez em quando nesta "casa"... Eu poderia usar um cocar.
E convidaria o "chato"... (Poeta Mauro Gouvêa)... a sentar-se comigo e fumarmos o cachimbo da paz e discutirmos sobre a maravilhosa diversidade cultural.
Nestas situações necessárias, sentar-me-ia, então, no chão da minha casa. Com as pernas cruzadas, o meu cocar na cabeça... E faríamos uma prece aos deuses da floresta... Para que haja mais igualdade entre os homens.
E mais paciência em mim...
Para conviver com esses "letreiros" ... E homens.
Karla Mello