Rotina
E de repente veio o progresso
Luz, arborização, água, asfalto.
Caminhões, passageiros, poluição.
Veio a Lua pra mais perto, através da ciência.
E o mar, o mar coitado, abandonado.
E o homem o polui, o homem o destrói a cada cm3 de arsênico, carbono, enxofre.
E a vida passa, continua o dia a dia.
Gente que morre gente que nasce e o ciclo de vida nunca para, continua.
E de repente o progresso.
Mãos trabalhando, prédios subindo, máquinas substituindo o homem.
E os carros, os motoristas, os desastres, uma alma vil, sem escárnios.
E veio a lua pra mais perto através da hidrelétrica
E o mar ninguém liga pra ele, só serve para divertir-nos em nossas férias, nossos fins de semana, e tirar nosso alimento, e alguém se preocupa com ele, e mais um vazamento de óleo o jornal anuncia, e nós, não temos tempo a perder.
E de repente veio o progresso.
Enquanto homens guerrilham, matam, gastam desperdiçam dinheiro em armamentos, e pobres morrem de frio, de fome, e a fome do mundo?
E o comodismo invade em gênero e número, alguns podem até ficar doente por falta de andar, tem carro podem gastar a tão excassa gasolina, e outros andar a coisa que para aleijados tudo dariam para faze-lo, e gente se preocupa em inventar meios para mais comodismo ainda.
E a televisão a cores que temos dentro de nós, é com nossos olhos cegos que sentimos a natureza pela cor, brilho, e os cegos que tudo dariam para enxergar, que se enfileram na esperança de uma córnea, e toneladas são jogadas dia a dia das terras pelo mundo afora.
E toda essa rotina acontece dez mil, milhões de vezes por dia, e todos nós não estamos satisfeitos, queremos mais.
Escrito em 19/08/1975