EMES de mãe e mulher



Minha mãe e eu
 

      Fico pensando como somos capazes de guardar lembranças de fatos tão corriqueiros em nossa mente e quando menos esperamos, eles, os fatos que guardamos, voltam com uma nitidez espantosa.
     Olhei uma foto de minha mãe comigo em uma festa e pensei em um comercial de TV que circulou no início dos anos oitenta, que dizia algo que repito aqui, não exatamente com as mesmas palavras, mas algo assim: “olhe para sua mãe agora e veja como você será na idade dela. Lembro que pensei: - Serei uma jovem senhora de 50 anos. Ainda bem!
    Já faz um bom tempo e daqui a dois anos serei a jovem senhora que o comercial me induziu a imaginar a quase vinte e cinco anos atrás pois além de parecer fisicamente com minha mãe, sei que herdei dela muito mais que a aparência.
    Minha mãe faz hoje 72 anos e para homenageá-la publico aqui um texto que fiz há alguns anos. Não diria nada de diferente do que disse, do que sentia e sinto em relação a essa mulher tão especial.
    Que Deus lhe dê muitos anos de vida para que possa celebrar entre os seus nove filhos e filhas, netos e netas, genros, noras e nosso pai e agradecer todas as bênçãos e alegrias que a nossa família viveu e vive.
     A benção, minha Mãe! FELIZ ANIVERSÁRIO!

 
“Tudo sobre minha mãe”

“... Minha mãe foi a primeira música que tocou no meu rádio. A primeira paisagem. A primeira pessoa que me falou sobre milagres e, sem palavra alguma, me contou sobre Deus."
                  [Pra Edna, minha mãe - Ana Jácomo]
 

     Minha Mãe, quero te dizer que és uma mulher admirável. Por óbvio, que filho ou filha não diria isso de sua mãe? Mas, a meu favor, os fatos: Que mulher não seria admirável casando aos catorze anos, menina ainda, e assumindo a responsabilidade de uma família numerosa? Que mulher não seria admirável tendo parido, criado e educado dez filhos? Que mulher brasileira, nordestina e moradora da roça não seria admirável se exibisse no rosto corado dos filhos o resultado da luta contra o “mal de sete dias”, das doenças da miséria, da ignorância e desinformação? Que mulher não seria admirável se, mesmo parindo um filho quase todo ano, voltasse a estudar - junto com eles – e fosse trabalhar fora?
    Lembro Mãe, que naquele período, dividi contigo a maternidade dos meus irmãos mais novos. Brincava, alimentava, cuidava da higiene, providenciava remédio quando necessário, procurava atender suas queixas, dava carinho e proteção, embora também fosse uma menina precisando de tudo isso.
     Precisava da mãe também para pentear meus cabelos, olhar minhas roupas e meus deveres. Olhava-me no espelho e via a imagem do desamparo. Mas também me via crescendo, amadurecendo, agigantando-me diante das responsabilidades que a vida me impunha. Crescia, mesmo quando me escondia numa montanha de sonhos disfarçada de livros.
    Aprendi, no exemplo de tua ausência, que isso era brigar pela vida, Minha Mãe. Aprendi a cuidar de mim, a não me encolher diante das dificuldades. Desde então tenho me empenhado em alguns combates. Tenho tentado também aprender todas as lições da vida e atender, sempre que possível, o chamado da realidade.
    Sempre penso em ti como uma leoa, ora defendendo suas crias, ora empurrando-as para a luta. Teu exemplo de trabalho e luta com nosso pai pelo sustento e manutenção da família unida, nunca será esquecido por nós, seus filhos e filhas. Aqui listo o que herdei da tua genética: o gosto pela música, o ofício de professora, curiosidade e disposição eterna para o aprendizado.
    Reconheço-me no teu exemplo, mas como filhos e filhas agradecem pedindo mais, peço a Deus que a mantenha corajosa, briguenta e também generosa com os que estão a sua volta. Lembrando que sempre haverá tempo, Minha Mãe, para o aprendizado permanente do amor, da tolerância e da aceitação das pessoas como elas são. Todos nós temos virtudes e defeitos e a capacidade infinita de nos reinventarmos, sempre. Isso é ser gente e desta lição jamais esquecerei.
     Espero ser para meu filho a mãe que és para todas e todos nós, seus filhos e filhas. Tenha certeza de que não te amaríamos mais, se fosses diferente.
     Que Deus te abençoe, Minha Mãe!*

*Minha homenagem a todas as mães do mundo, na pessoa de Minha Mãe, professora Severina Lopes, que continua morando na roça e esperando, junto ao nosso pai, filhos e filhas, genros e noras, no almoço do fim de semana, nossa presença barulhenta, em sua casa.



Meu irmão Avelar e minha Mãe