ENTRE CÍNICOS E CÉTICOS

Em um discurso proferido há um mês mais ou menos, o senador Cristovam Buarque (PDT) referiu-se a dois grupos de “destaque” na sociedade brasileira: o grupo dos cínicos e o grupo dos céticos.

Vamos ao conceito de cínico: segundo o professor Aurélio, “Diz-se de filósofos antigos (como Diógenes) que professavam uma moral ascética e um desdém absoluto das conveniências sociais. Impudente, inconveniente, descarado: de linguagem cínica”. Na linguagem popular, é aquele que comete algum disparate ou desvio de conduta ou mesmo comportamento ofensivo, agressivo ou dissimulado e tenta convencer que não cometeu nenhum mal, “ou não fez nada de mais”. É aquele que se faz de vítima quando na verdade é algoz. Aquele que se faz de desentendido para não receber retaliação ou dura crítica. Já o cético seria aquele que não crê, que duvida de tudo; descrente; desconfiado; que permanece cético diante das promessas dos políticos.

Cínicos, nesse caso, seriam os políticos com as suas promessas descumpridas, ignoradas cinicamente. Os céticos seriam aqueles que desacreditaram numa mudança da situação do seu povo, seja pelas mãos dos gestores, seja pela própria ação da sociedade.

Os cínicos continuam a transitar e a se reproduzir no poder, garantindo o benefício extensivo a familiares e amigos muito íntimos. Para isso, eles não governam adequadamente, não promovem melhorias sociais e mantém, com cinismo, o status quo. Infelizmente, é exatamente isso que os garante na continuidade do poder. A precisão ou necessidade do povo é o que alimenta esse ciclo vicioso.

Já os céticos comandam uma lógica do “nada é possível fazer”. Eles acreditam e agem conscientes dessa trágica realidade, porque já se convenceram de que não podem fazer nada. Atribuem ou terceirizam a responsabilidade para outras pessoas, ou estritamente, para a classe política. - É para deixar tudo como está! - Todo candidato é assim! - Todo político é ladrão! - Não podemos fazer nada! - Tá tudo bagunçado mesmo, vamos deixar como está! Essas são frases comuns no discurso dos céticos. Existem governantes céticos também. Não acreditam na mudança há muito tempo, e, enquanto são cínicos, também exercitam seu ceticismo. Só não revelam isso clara e honestamente é claro. Por quê? Porque estão interessados nos dividendos ($) que a governança lhe proporciona.

Podemos escolher não sermos nem céticos, nem cínicos. Podemos, através de uma revolução ética, promover justiça social. Podemos, por incrível que isto possa parecer, escolher por dias melhores, partindo-se do pressuposto de que, “no fundo do poço cavado por estes dois atores” [cínicos e céticos], existe uma força salvadora apoiada em princípios éticos que podem salvaguardar a paz, a referida justiça e ainda equidade social.

É perturbador pensar no contrário. Pois, ao pensar e agir assim, estaríamos sendo, ao mesmo tempo, cínicos e céticos. Não acham?

DANIEL G B NICOLAU
Enviado por DANIEL G B NICOLAU em 21/12/2011
Reeditado em 14/11/2012
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