POR FALAR DE CIDADANIA POLÍTICA

Não é muito fácil ser cidadão. Acredito que seja mais prático, espontâneo, porém pouco notório, ser político. Explico: cidadão é um adjetivo/ conceito pretensamente relacionado a uma ética cidadã de que todos acreditam realmente serem praticantes eficazes. Sugiro que tal eficácia deveria jorrar de uma profunda autocrítica que anulasse, por justiça, essa equivocada certeza de ser possuidor dessa ética. Não obstante, é exatamente essa noção enganosa – porquanto produz engano próprio – e enganadora – porquanto produz engano a muitos – que caracteriza a prática e a espontaneidade do “ser político”. Quando acreditamos que dispomos dessa ética cidadã, não estamos sendo políticos? Se essa é a nossa prática, essa é também a nossa política, levada a termo na circunscrição de nossos atos e ações. É a nossa história individual que, somada a história dos demais indivíduos, constrói a história da coletividade.

Somos políticos em todas as nossas relações. E isso é imprescindível, porque do contrário tenderíamos a uma rápida autodestruição pelo excesso de franqueza e porque não dizer excesso de “humanidade”. Para uma mudança para melhor, o “ser cidadão” precede o “ser político” e não o contrário, apesar de ambos andarem lado a lado. Por isso, precisamos ser cidadãos, para sermos políticos. O primeiro transformando o segundo, positivamente.

Explico mais uma vez: nós podemos decidir sermos corretos e cumprir com todas as nossas obrigações enquanto cidadãos. Mas, não cumprimos integralmente e totalmente, porque exatamente somos maus políticos. Essa é a nossa política. Não importa a classe social ou grupo social. Quase sempre o que está na pauta são os privilégios ou benefícios fáceis relacionados ou ao quadro de referência – a conjuntura –, ou ao poder, e não a conquista de direitos básicos. Falamos demais nos direitos (individuais e coletivos) e o cumprimento de deveres elementares (individuais e coletivos) são “terceirizados”, com a adoção da seguinte política: o outro [e não eu] é quem vai cumprir, o outro cumprirá [e não eu]. Ou para sermos políticos dizemos: cumpro rigorosamente meus deveres! “Frieza política” ou “política da frieza”. “Mentimos, mais uma vez, politicamente”. Essa não é, também, uma política de vida? Cidadania política?

DANIEL G B NICOLAU
Enviado por DANIEL G B NICOLAU em 21/12/2011
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