A DOENÇA DO SÉCULO
 
As pessoas de um modo geral andam tão complicadas, supostamente estressadas, cheias de problemas que não sabem explicar o porquê deles. Também é evidente que não sabem administrar a sua economia psíquica. E, por influência de terceiros, acabam no consultório de um clínico geral, quando deveriam urgentemente procurar por um psicólogo ou por um psiquiatra. Essa doença do século campeia por todo o planeta e não respeita classe social. Os ricos tiram férias em balneários luxuosos ou se suicidam. Mas os pobres, pobres coitados, que nem sabem o nome dessa doença,se auto-exilam num canto, a espera que a doença arrefeça. Acompanhado é lógico de muitos chás calmantes, benzeduras e outras rezas sabidamente ineficazes.
Tem-se a impressão, dado a quantidade de gente complicada ou doente psíquico, que é coisa da moda ou como dizem os entendidos, trata-se de um mal do século. Mas o fato é que, o sistema em que vivem de certa forma, mal digerido, também empurra essas pessoas desestruturadas para o divã. Sabidamente que os especialistas nessa área, também têm os seus compromissos e precisam se vestir, comer e alimentar os seus. Tudo nos remete friamente para entender que, também é uma questão de mercado. Dizem que essa doença chamada de “depressão” é um mal do nosso século, provocado pelo sistema capitalista, no qual, se está mergulhado sem nenhuma escolha. O sistema capitalista, cria nas pessoas o desejo de consumir. Bom, quem pode é abocanhado pelo sistema e consome. Mas quem não pode, (os pobres) apenas sentem o desejo de consumir. No entanto, não consomem, mas se consomem em desejos impossíveis e a depressão os abocanha. O capitalismo é intrinsecamente mau, isso já dizia o pré-claro e santo Don Helder Câmara.
Os médicos de clínica geral, pelo menos os da minha região, em seus diagnósticos, pensam tratar-se de uma endemia de baixa estima. Explicam eles que, as pessoas desta região, sofrem pela falta de sonhos e, notadamente, muito tem a contribuir a ausência ou embotamento total dos anseios. Os sonhos e os anseios são coisas normais de todo ser humano normal. Aqui devemos debitar essa endemia generalizada, pela falta ou ausência dos meios para a obtenção da abundância e da prosperidade, um direito de todo ser humano.
Uma vez no consultório médico e não havendo uma solução imediata para esses problemas, aliás, que não é da competência do clínico geral. O doutor, para oferecer um alívio aos seus pacientes, receita sem consultar um especialista da área psíquica, o tal do RIVOTRIL. O consumo desse psicotrópico, bem como os de outras nomenclaturas, é de um volume muito maior do que o consumido em hospitais psiquiátricos.
Urge que as autoridades médicas e a secretaria da saúde promovam um estudo profundo, para detectar as causas dessa endemia psíquica. Uma vez levantada às supostas causas, poder-se-ia em um tempo a ser determinado, equacionar e minimizar esse problema. Grande parte do problema seria resolvida através de soluções de impacto imediato, ou pela aplicação em massa de uma terapia ocupacional. (ginástica comunitária, centros de entretenimento, bem como palestras de auto-ajuda etc.) Pois é sábio o provérbio que diz: “Cabeça desocupada é oficina do diabo”.
Aqui nessa minha região, o ócio e a falta de perspectiva para uma sobrevivência digna, são as causas de todas as doenças. Não tendo o que fazer além da pobre pesca de sobrevivência, o indivíduo sem uma ocupação, acaba e naufraga na bodega, aonde afoga todos os seus males. As pobres mulheres, vendo os seus maridos viciados na “mardita”, por sua vez, entram em parafuso e acabam no consultório médico. Deve-se ainda observar, para o grande número de mulheres que apanham de seus maridos embriagados. Pobres mulheres!
Algumas mulheres vítimas dessa situação conseguem superar ou minimizar os seus problemas, com a freqüência assídua às igrejas, buscando algum conforto. Entretanto, essas igrejas apenas lhes dão o consolo, pedindo-lhes a paciência e muita reza, mas não lhes dão a solução. Hoje, esse problema de falta de ocupação para os homens e mulheres, já se encontra mais amenizado do que no passado. Pois com a facilidade de locomoção, homens e mulheres, trabalham nas cidades vizinhas e com isso trazem algum conforto e prosperidade para as suas famílias.
No entanto, aqueles homens que por aqui ficam, são verdadeiros apreciadores do ócio bendito. Nascem vadios e morrem embriagados. E, por uma questão do “faz niente”, acabam em verdadeiros adoradores e consumidores da cachaça (mardita) no templo do vício, a mais conhecida por catedral da perdição, a “bodega” ou “venda”.
Apesar de estar escrevendo esta crônica com certo humor, aproveito também para dizer e alertar que se trata de um problema muito sério. Pois, a degradação humana, a baixa estima, as doenças físicas e morais, assim como a depressão, levam silenciosamente uma comunidade à indolência doentia e ao extermínio social. Aqui em nossa região, ficou petrificado nos seres humanos nativos o desastroso resultado da miscigenação desordenada. O caldeirão genético entre africanos negros, aborígines da região e os açorianos, resultou no surgimento dos mamelucos e cafuzos. Esses descendentes das etnias invasoras e os índios locais, que forjaram os habitantes atuais, estão hoje, bem representados no seu modo atípico ou indolente de vida. Como dizem os antigos e sabidos anciãos: “Todos são cunha do mesmo pau”.
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