TEMPO DE SORRISOS VERDADEIROS?

Anos após anos as luzes coloridas se acendem, as árvores se enfeitam com os mais estranhos complementos, os sorrisos se escancaram nos rostos daqueles que ficaram carrancudos o ano inteiro, as esperanças moribundas rejuvenescem como num passe de magia, todos se abraçam e muitos se tornam solidários oferecendo presentes e/ou cestas básicas a favelados e miseráveis do seu bairro. Todos querem dar e receber presentes, quase como se isso fosse uma obrigação irrefutável da qual ninguém pudesse escapar. Os comerciantes, risonhos de orelha a orelha, não dão importância à singeleza da época, importa-lhes tão-somente vender e vender muito, o máximo possível para lucrar mais do que o ano anterior, anotando dados, coletando estatísticas e apelando para o emocional coletivo. Para eles, é tempo de aumentar intensamente as vendas, pois é apenas esse seu objetivo. E até quem não pode faz o impossível para também integrar esse consumismo desenfreado, de modo a ser parte desse todo que segue os ditames de algo já convencionado e do qual ser membro é regra geral.

Um espírito, que se diz chamar natalino, se apossa imediatamente dos corações, determina gestos e atitudes e transforma as pessoas. Tudo por instantes, por uns poucos dias, a desaparecer depois como a esmaecente fumaça. Quem ao longo dos meses se mostrou intolerante, malicioso, rude, grosseiro mesmo, subitamente aparenta ser o protótipo do cordeiro, um ser de luz capaz de cometer os atos mais sublimes. Quem não amou nem respeitou, agora se acha um anjo de bondade porque é Natal, pois assim é que deve ser nesse período, mesmo que depois, dia subsequente a 25 de dezembro, volte ao seu normal e exiba sujas garras afiadas e perigosas. A hipocrisia toma conta de inúmeros olhares, de vários recônditos d'alma, de nucleares corações, devidamente disfarçada em sorrisos "natalinos", escondida em tapinhas nas costas e negros abraços de ursos.

A confraternização é geral e envolvente, os votos de "Feliz Natal" vão se multiplicando entre as pessoas das mais diversas camadas sociais, ninguém se preocupa em ser diferente nessa época. Porque isso seria absurdo, claro, há preceitos não escritos a ser seguidos sem discutir no tocante a esse aspecto. Não se divertir no Natal, não comemorar com exagerada gastronomia e incontáveis garrafas de vinho ou qualquer outra bebida alcoólica seria um "sacrilégio". O comum e usual em dezembro é participar de todos os encontros e festas, dos "amigos secretos", das bebedeiras e dos abraços, ainda que alguns sejam salpicados de falsidade.

Mas há quem se lembre do sublime aniversariante, de Sua divindade, de Sua entrega total ao sofrimento e à morte em prol de pecadores, de Sua ressurreição gloriosa ao terceiro dia, de que Jesus Cristo é o próprio Deus feito homem, cheio de graça e de verdade? Quantos tem a consciência de agradecer fervorosos por Sua misericórdia, quantos se voltam serena e respeitosamente em Sua direção para, contritos e arrependidos, orar, falar com Ele, ouvi-lO? Parece que Ele é o mais olvidado no momento em que deveria ser mais venerado, deixado de lado quando mais precisaríamos procurar por Ele. Homens e mulheres, embora não todos é bem verdade, só pensam em comprar presentes, os comerciantes, por sua vez, em vender, aguardando com ansiedade a noite de Natal para a grande e farta ceia natalina com os familiares com vistas à inevitável farra de comilança e bebedeira. No aniversário de Jesus, o quase esquecido por causa das diversas coisas oferecidas pelo mundo com seu brilho fantasioso, seus festejos homéricos, suas algazarras, seus motéis ainda mais transbordantes nesses dias de festanças! O aniversariante é o menos lembrado por todos nós que deveríamos, tantas vezes, corar diante dos nossos próprios atos.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 20/12/2011
Código do texto: T3398616
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