QUO VADIS?
Católico, eu entendia que a festa do natal era a celebração do renascimento, onde toda cristandade, seguindo o exemplo de Jesus, devia se despojar de todo orgulho, toda presunção, vaidade e desejo de mostrar para os outros tudo aquilo que julgamos ser o motivo maior para nos diferenciar dos demais mortais.
Que devíamos abraçar a humildade como norteador de uma vida nova, dedicada à caridade, regrada pelos cânones do amor incondicional a Deus e ao próximo.
Verdadeiramente fazer-nos dignos de sermos apontados como o sal da terra.
Respeitando as diferenças, amar os diferentes e aceitando que cada um seja como é sem querer que sejam como nós gostaríamos que fossem.
Mas sempre vi, e continuo vendo, que isso é utópico.
Aquela bondade de última hora mostrada tantas vezes em filmes, onde um personagem avarento é tocado pelo “espírito do natal” e abre a carteira para doar, num gesto de caridade insossa, as comidas para ceia e os presentes para todos de uma família necessitada na noite do natal, é a realidade do dia a dia.
As pessoas são avaras em tudo e não é o gesto hipócrita do final de ano que vai alterar isso, porque nos outros dias ela nem se lembra da existência do próximo.
Hoje ateu convicto, continuo participando da festa (que é muito boa) e imaginando que talvez precise acontecer o que narra uma das lendas dos primeiros tempos do cristianismo.
Na época da perseguição aos catecúmenos, bem antes que Constantino resolvesse assumir o cristianismo, com o intuito de salvar o império romano em franca decadência, aconteceu que:
“Pedro, o príncipe dos apóstolos, estava fugindo de Roma para não ser preso e martirizado.
Na estrada a pequena comitiva encontra Jesus que, vindo em sentido contrário, se encaminhava para Roma. Pedro então pergunta, em bom latim:
- Quo vadis, domine? (Aonde vai, senhor?)
Ao que Jesus responde:
- Abandonas o meu povo, por isso vou a Roma ser crucificado novamente.”
Pedro voltou, foi preso, martirizado, morreu crucificado de cabeça para baixo e foi sepultado no monte Vaticano, para que se cumprisse a escritura que diz:
“ ...tu és pedra, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja a as portas do inferno não prevalecerão contra ela e eu te darei as chaves do reino dos céus e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus... – Mt 16:18 e 19”
Daí dizer-se que catolicismo e cristianismo é uma só coisa, o resto é dissidência para arrancar dinheiro dos tolos e um excelente meio de vida.
Na improvável hipótese de que a história do cristianismo seja verdadeira e não apenas uma manobra dos messiânicos (seita judaica) eu acho que se a pergunta fosse feita hoje, Jesus responderia:
- Vocês deturparam o que eu ensinei;
deixaram que a hipocrisia sobrepujasse a razão e a fé;
esqueceram que minha doutrina está resumida, apenas, no amor ao pai e ao próximo;
para satisfazer ao egoísmo e ao interesse escuso, vocês transformaram o cristianismo no flagelo da humanidade, destruindo todas as culturas dos povos não cristãos, dominando-os, saqueando-os e dando-lhes em troca a fome, a doença e a escravidão;
em meu nome são feitas guerras fratricidas onde ninguém é vencedor...
Por tudo isso, vou à Belém, na Galileia, nascer outra vez.
Honesta e sinceramente eu desejo um natal e ano novo feliz e pleno de realizações, para todos.