A VOZ DE CABO VERDE
Quando a ouvi pela primeira vez, vi-a em dueto com Marisa Monte, interpretando “É doce morrer no mar”, clássico de Dorival Caymmi.
A figura de Cesária Évora magnetizou-me pela serenidade do semblante. Olhar e sorriso tímidos, poucos gestos e poucas palavras compunham a singular postura contida naquela cantora de voz mansa, marcante em sua modulação melodiosamente triste, mas não sem os “allegros” e dançantes ritmos e seus dialetos. No palco, descalça, Cesária Évora mantinha-se solenemente discreta, sem arroubos de expressão corporal, posto que a voz nela se impusera soberanamente comunicativa. Para ouvi-la, precedia-se um natural silêncio, assim como toda diva do canto faz-se ouvir pela real magnitude da voz. E ciente desse traço personalíssimo, Cesária partilhava talento com os músicos que a acompanhavam, igualmente virtuosos, cada qual prestigiado com um momento de solo.
Há poucos dias um telejornal noticiou a “Lista das cantoras que jamais serão esquecidas”. Decepcionado por não haverem incluído algumas das minhas favoritas, fiquei a pensar qual o critério usado para essa seleção e de qual público ela se originou. A lista está disponível na internet, e, ao que suponho, só a “galera do pop rock” votou. As minhas favoritas são de décadas anteriores a mim. Nem por isso deixo de apreciá-las, pois suas vozes se perenizaram nos vinis, hoje remasterizados.
Não é preciso ser de outras eras para saber que Amália Rodrigues era considerada "a expressão máxima do fado" e que, ao morrer, o mundo inteiro foi informado pela seguinte manchete: Calou-se a voz de Portugal. A Argentina Mercedes Sosa levou ao mundo a voz do continente sul-americano. No lugar de outras divas da canção como Ella Fitzgerald, Dinah Washington, Shirley Bassey, Sarah Voughan, Edit Piaf e Cesária Évora, estão as estrelas do momento, com Madonna no topo. Ainda bem que não esqueceram de Barbra Streisand e de Diana Ross. Mas esqueceram de que a lista era para as "jamais esquecidas", e não para as que brilham no momento, embora eu goste de quase todas. Amália está para Portugal como Cesária Évora está para Cabo Verde, e ambas para o mundo.
Sobre as que ficaram fora da lista vale dizer: elas estiveram no mundo e o mundo as esqueceu. Não. Jamais! Esquecidos serão os que não as escolheram, por nunca as terem ouvido.
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Ouça aqui Cesária Évora
MAR AZUL
http://www.youtube.com/watch?v=l4WIsQwkbJw&feature=related
Quando a ouvi pela primeira vez, vi-a em dueto com Marisa Monte, interpretando “É doce morrer no mar”, clássico de Dorival Caymmi.
A figura de Cesária Évora magnetizou-me pela serenidade do semblante. Olhar e sorriso tímidos, poucos gestos e poucas palavras compunham a singular postura contida naquela cantora de voz mansa, marcante em sua modulação melodiosamente triste, mas não sem os “allegros” e dançantes ritmos e seus dialetos. No palco, descalça, Cesária Évora mantinha-se solenemente discreta, sem arroubos de expressão corporal, posto que a voz nela se impusera soberanamente comunicativa. Para ouvi-la, precedia-se um natural silêncio, assim como toda diva do canto faz-se ouvir pela real magnitude da voz. E ciente desse traço personalíssimo, Cesária partilhava talento com os músicos que a acompanhavam, igualmente virtuosos, cada qual prestigiado com um momento de solo.
Há poucos dias um telejornal noticiou a “Lista das cantoras que jamais serão esquecidas”. Decepcionado por não haverem incluído algumas das minhas favoritas, fiquei a pensar qual o critério usado para essa seleção e de qual público ela se originou. A lista está disponível na internet, e, ao que suponho, só a “galera do pop rock” votou. As minhas favoritas são de décadas anteriores a mim. Nem por isso deixo de apreciá-las, pois suas vozes se perenizaram nos vinis, hoje remasterizados.
Não é preciso ser de outras eras para saber que Amália Rodrigues era considerada "a expressão máxima do fado" e que, ao morrer, o mundo inteiro foi informado pela seguinte manchete: Calou-se a voz de Portugal. A Argentina Mercedes Sosa levou ao mundo a voz do continente sul-americano. No lugar de outras divas da canção como Ella Fitzgerald, Dinah Washington, Shirley Bassey, Sarah Voughan, Edit Piaf e Cesária Évora, estão as estrelas do momento, com Madonna no topo. Ainda bem que não esqueceram de Barbra Streisand e de Diana Ross. Mas esqueceram de que a lista era para as "jamais esquecidas", e não para as que brilham no momento, embora eu goste de quase todas. Amália está para Portugal como Cesária Évora está para Cabo Verde, e ambas para o mundo.
Sobre as que ficaram fora da lista vale dizer: elas estiveram no mundo e o mundo as esqueceu. Não. Jamais! Esquecidos serão os que não as escolheram, por nunca as terem ouvido.
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Ouça aqui Cesária Évora
MAR AZUL
http://www.youtube.com/watch?v=l4WIsQwkbJw&feature=related