NATAL

 
 
                    O Natal é uma festa religiosa de amplitude universal, mas de comemoração bem familiar. Tem ritual e símbolos próprios celebrados e expostos nas residências cristãs. Entre esses símbolos destacam-se: a árvore, em geral um pinheiro, enfeitada de fitas e berloques, em cuja base se depositam os presentes; o presépio ou lapinha, reconstituição do local onde nasceu Jesus; a ceia, antes da meia-noite, da véspera do dia 25; Papai Noel, um velhinho gordo de carapuça e casaco vermelho, gola, punhos e barbas brancas, com um saco nas costas cheio de presentes para colocar nos sapatos das crianças, estrategicamente colocados ao lado de suas camas.
                     Esses símbolos foram aparecendo e se formando ao longo dos séculos e em lugares os mais diversos. A árvore, por exemplo, dizem que foi iluminada no espaço doméstico pela primeira vez, por Lutero, na Alemanha, após o seu casamento em l525; já a arrumação do presépio deve-se a São Francisco de Assis, em l223, em Graccio, Itália. Em l521, o peru sucedeu ao ganso, na França, como prato principal da ceia. Esse, varia de país para país. Papai Noel é a representação do bispo Nicolau, de Nêyra, Turquia. Ele costumava deixar brinquedos, dinheiro e até comida, nas portas dos necessitados durante a noite. Depois de sua morte, em 350 d.C. passou a símbolo natalino. Sua imagem atual é devida ao caricaturista francês Grainville, elaborada em l832. O Papa Júlio I estabeleceu o dia 25 de dezembro como o dia do nascimento de Jesus. Antes se comemorava num dia que vai de 6 de dezembro a 6 de janeiro. Ainda há povos que comemoram e distribuem presentes nesse dia 6 de janeiro, chamado de Reis ou da Epifania.
                     Mas o que eu queria mesmo dizer era que, quando menino, Papai Noel nunca passou na nossa casa. Quer na fazenda, onde esbanjei infância; quer na rua Epaminondas, onde sofri a minha adolescência. Não me lembro, também de ter visto muitos meninos ostentando presentes nesse dia. Meus primos, por exemplo. Eu sabia da existência de Papai Noel, mas para mim ele era mais uma das personagens das histórias de Trancoso. Isso não quer dizer que não comemorássemos o Natal. Muito pelo contrário. O presépio de dona Ilca, na rua Epaminondas, era motivo de encantamento. Tomava metade da sala da frente do primeiro andar e era uma cidade em miniatura, com árvores, rios, cascatas, estradas, íngremes ladeiras, veículos, animais, homens, mulheres e crianças. Todos a caminho da lapinha, onde o pequeno Jesus os esperava de bracinhos erguidos. Guia? A estrela de Belém. A mesma que guiou Gaspar, Melquior e Baltazar, os três reis magos, com seus presentes: ouro, mirra e incenso.
                   No dia 24, fazíamos uma lauta ceia de iguarias importadas: bacalhau, castanha portuguesa, nozes, avelãs, amêndoas, figos, passas e, embora não importadas, as mais saborosas rabanadas. Essa mesa era diariamente recomposta até o dia 6 de janeiro. Mas o melhor vinha depois da ceia: a família toda – pai, mãe, as duas filhas e o caçula – a pé, na noite morna de Manaus, a caminho da Igreja de Nossa Senhora da Conceição ou simplesmente Matriz, para assistir a Missa do Galo.
               Creio que o que mais me orgulhava então, não era ser cristão comemorando o nascimento do Filho, mas era ser o próprio filho segurando a mão do pai naquela noite mitificada – meu pai.
 
 
 


 
Alberto Soeiro
Enviado por Alberto Soeiro em 19/12/2011
Reeditado em 16/01/2012
Código do texto: T3396599