Fantasma dos Natais Passados II

Bimbalham os sinos! Assim diz a tradição natalina, embora os sinos sejam cada vez mais raros. Se bem me lembro, na semana passada eu deixei o leitor logo após quase ter dado um flagra no Papai Noel. Para o bem de todos, isso não aconteceu. Sempre cheguei diante da árvore de Natal depois que ele já havia saído. Essa árvore de Natal, naturalmente, era natural. Cortada da casa de meu tio ou de meu avô. Quem enfeitava era o próprio Papai Noel - e provavelmente se espetava muito.

Eram árvores enormes, que quase batiam no teto. E normalmente tinham uma bendita ponta, que sempre tombava pra algum lado, tornando muito difícil encaixar a estrela nela. Isso sem falar nos algodões, que caiam com o vento. Nos primeiros natais, ainda eram usadas velas, além de deliciosos enfeites de chocolates - aliás, eu sempre suspeitei que Papai Noel aproveitava pra comer alguns deles também. E havia enfeites antigos e originais, feitos de madeira, também do tempo do meu avô.

Ficávamos parados por um tempo diante da árvore já com os presentes, e então repetíamos alguma oração - o Senhor há de me perdoar, mas nem sempre eu conseguia manter a concentração nessa hora, diante de todos aqueles pacotes. E em seguida eu tratava de atacá-los, não tendo o menor cuidado em preservar o embrulho. Quase todo ano eu ganhava uma bola de futebol – naquele tempo, não havia bola que durasse mais de um ano. Foi no Natal também que ganhei minhas primeiras bicicletas e o meu Super Nintendo - único vídeo-game que tive até hoje. E ainda tenho, aliás.

Enquanto eu me deliciava com os pacotes, meu pai colocava pra tocar uma fita cassete de Natal dos Pequenos Cantores da Guanabara. A fita era de 1989, e a gravação era de 1981. Eu sabia de cor até os suspiros das músicas. Nos intervalos entre elas, sabia exatamente como começaria a próxima. Ouvia praticamente todos os dias – e isso desde setembro, obviamentee. Do outro lado da fita, havia uma gravação de músicas natalinas em alemão. Essas eu ouvia um pouco menos, pois não entendia nada, mas achava lindo.

E depois de abrirmos todos os presentes, seguíamos para a casa dos meus avós, onde todos se reuniam para comemorar e as crianças aproveitavam pra levar alguns dos seus novos brinquedos. Isso, na verdade, acontece até hoje. A diferença é que eu cresci, já não ganho mais brinquedo, e nem sempre estou em São Bento nessa época. Mas na cabeça, continuo sendo o mesmo.

Ainda acho que no dia 24 acontecem coisas especiais, com um sentido mais profundo, e que trarão alguma reflexão que permitirá aproveitar melhor a noite. Ainda tenho um pouco daquele menino que ficava imaginando com tristeza que o número máximo de Natais de uma pessoa é 80, quando muito 90. E que passava a véspera de Natal inteirinha lendo gibis especiais sobre a época - tudo para aproveitar melhor o dia.

E que, por ser assim, ainda hoje se sente impotente diante de tanta gente que enfeita a casa, monta árvore de Natal, celebra a ceia, troca presentes, mas absolutamente não sabe o que faz.

Desejo ao leitor que a data não se resuma a suas lembranças. E que o Fantasma dos Natais Futuros lhe seja ainda mais agradável.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 18/12/2011
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