Zila da Vila
Por Abilio Machado
Ela era, um menino todo especial, usava calções, meias de futebol, as camisetas de time e jogava de artilheiro em nosso time, sempre achei esquisito o tipo daquele menino até descobrir que Zila era uma menina com aqueles cabelos loiros curtinhos.
No grupo sempre tinha os mais velhos que comandavam a brincadeira, que inventavam modismos para a semana, ou que dirigiam a brincadeira sazonal, uma época para cada coisa: bola, carrinho de rolimã, vôlei, raia, bolinha de gude, busca latinha e por aí vai.
Era ela também a mais traquina e também a que sofria quando os moleques mais velhos chamavam a todos para dar uma mijadinha básica, até hoje não entendi bem, se queriam mostrar que seus peruzinhos eram maiores ou se era para dar uma espiada nos meninos menores, e Zila saia de fininho, alguns ainda não entendiam, mas na verdade a gente não ligava pra esta coisa de sexo, gênero e tal, bastava mesmo que ela continuasse a marcar gols, dentre todos ela era folgada a melhor em quase tudo, só perdia mesmo era no xixi à distância, saia de perto, sempre protegida pelo Everaldo ou Eraldo, sabe que nunca me liguei no nome dele? Interessante pensar nisso agora...
Havia os meninos que eram os mandões, por eles íamos à guerra contra a outra vila, numa verdadeira ‘guerra dos botões’, quem não viu este filme deveria.
Falando em Zila, o que se fará dela? Depois que me mudei da Vila Silka não mais a vi, talvez até mesmo hoje em dia passe por ela e ambos não se reconheçam, dado que os anos passaram, a vida mudou, a própria vila mudou, passei la´outro dia, restam poucos dos antigos moradores, lembro ainda de pular a cerca para o terreno da D. Vina ora para brincar com os meninos: Carlinho e Nilson e hora para comer cenouras, ela fazia canteiros caprichadíssimos, e os meninos do Seu Afonso então: Lalo (Geraldo) e Gilmar, nós aprontávamos um monte... E é claro brigávamos um monte também... A molecada era tipo elástico ficavam bem pouco tempo de mau, logo se viravam em inventar mais uma ou duas de tirar os cabelos dos pais, mas era uma molecada cheia de respeito, posso que gabar que não aprendi palavrões com eles, poucos chiavam palavras obscenas, nenhum desrespeitava aos pais e os vizinhos, estes eram tão protetores quanto os próprios pais...
Saudade daquela vila que ficou lá atrás neste tempo de nosso Senhor...
Outro dia encontrei Eloir e mais uma vez nos abraçamos e conversamos, é muito bom para a alma saber que nossa amizade perdura a nossa vida toda.