Monique e a hora do adeus...
É noite, me bateu uma vontade de doce, corri atrás de alguma coisa, fucei no armário, geladeira e encontrei balas... Devorando-as estou a digitar...
E lembrei-me de Monique, aquela maravilha construída, toda perfeita, pensei em você ali parada ao lado do portão, quase desmanchada.
Monique era uma imagem do sexo feminino, peitos altivos, não eram pequenos e não grandes, era perfeitos. O pé esquerdo sempre parava em ponta, com o joelho levemente erguido enquanto o outro se apóia todo ao chão, o ombro também esguio acompanha a plataforma de modelo nata.
Fez vários papéis no teatro. Foi bruxa, estátua, fingiu-se de morta, sempre concentrada, não errava nunca, os outros que contracenavam com ela sim erravam, esqueciam falas e gestos e ela menina mulher era auto-suficiente, tudo o que o diretor queria ela ficava, e sem dizer que ficava e calada.
Era bom ouvido, estava sempre pronta a ouvir e todos gostavam de falar com ela, que simplesmente ficava na sua melhor face, de olhos vazios, que podiam ser qualquer um que quisesse...
E agora pouco estava lá, beira de rua, quase uma sarjeta, estava nua, todo seu corpo de pele cor de pêssego não sentindo o friozinho que adentra a noite, perdeu a cabeça a muito para um trabalho, agora está ali nua em pelo...
Não se importa com os olhares dos transeuntes, os carros passam e quase param, jogam olhares, assovios e flertam...
Fiquei tão comovido que apanhei a câmera e registrei este momento lúdico de Monique...
Um automóvel passou, reduziu, flertou, deu a volta na quadra, em breve retornou, ficou do outro lado da rua seduzido pelas suas formas, ela nem aí...
Em breve tomou coragem, desceu do carro e veio em sua direção, um misto de ansiedade e num suspiro profundo me perguntou:
__É uma, é?
__É. – respondi.
__E vai deixar aí... Vai mandar embora?!
__Sim, vou. Monique era atriz e agora acredito que encerrou a carreira...
__Que nada, deixa eu falar com minha mulher...
Pouco tempo depois.
__Posso levar?
__À vontade... Cuidado.
__Pode deixar... A carreira dela vai recomeçar... Agora auxiliando minha esposa que é costureira... Vai ser modelo.
Até mesmo ajudei a carregar uma de suas pernas longas e com meia bunda gostosinha e ainda disse-lhe adeus sussurrando bem baixinho.
Eu fiquei triste com minha companheira de tantas cenas agora ir meio desmontada e nua na porta malas do automóvel, que desceu a rua.
Este foi meu adeus à minha Monique, uma manequim que por muitas vezes partilhou do palco e de meus dias.