Uma Coxia de Surpresas
Fiquei admirando aquelas pessoas, sob tal desordem e ansiedade, sob a luz que se movia ao som do zumbido de vozes ansiosas e desordeiras. A imensidão, talvez não mais que duzentas cabeças, mas ainda sim uma imensidão; que me aguardava, fosse para me aplaudir ou me engolir. Dois mantos imensos e vermelhos se arrastavam, um de encontro ao outro, fechando consigo o zumbido da imensidão de falantes.
Era a hora. Mas hora de que? As palavras fugiram de minha mente, e as pernas tremerem daquela forma não estava programado, talvez fosse um sinal para desistir. Ou então devesse apostar na sorte; talvez ao abrir os lábios, as palavras jorrasem de minha boca de forma quase que espontânea. Estava decidido, eu iria desistir! E a desistência me fez ouvir outra vez aquele falatório, desta vez uma única palavra em couro: FRACASSADO! FRACASSADO!
Aquela palavra, audível apenas em meus pensamentos, travou minhas pernas de tal forma que deu mais tranquilidade a minha mente. De repente, os votos de boa sorte da equipe me fez sentir algo que eu desconhecia, algo que apertava em meu peito e queria me arrastar para o meio do palco. O medo me impedia!
"Quebre a perna!" Disse uma garota que mal se fazia notar, usando tal expressão que servia para se desejar sorte. O medo, as vozes em meu pensamentos e qualquer outra coisa que me impedia de entrar no palco, foram derrotados por uma voz mais forte em minha mente que dizia: "Eu não tenho medo de quebrar a perna!".
Entrei no palco! Mal podia ver a multidão, enquanto sentia meu corpo se esvaziar de algo bom que parecia estar repreendido a muito tempo em mim, um prazer desconhecido. Os minutos se passavam, e eu não percebia o que estava fazendo, apenas sentia e deixava fluir. Acabou! Encarei novamente o silêncio, o nervosismo, novamente a imensidão. Pareceu uma eternidade até que todos se levantaram e transformaram o silêncio em uma reconfortante salva de palmas.
Sorri para o novo zumbido que rondava e me curvei para a multidão.