O Natal em Mim…
 
 
            Eu já vivi sem ter noção do que era Natal. Criada no interior de uma família numerosa e com outras prioridades eu passei a primeira infância sem nunca ouvir falar de Natal, Papai Noel e coisas do gênero.
 
            Um pouco mais crescida acompanhava mamãe até a cidade para assistir a Missa do Galo, mas não sabia exatamente que galo era esse e por que ele merecia uma missa. Diferente daqueles do terreiro lá de casa que, no máximo, iam parar na panela. Sem choro nem velas.
 
            No início da adolescência fui apresentada a Papai Noel, mas ele não gostou muito de mim, nunca me visitou. Na segunda fase da adolescência comecei a ter consciência do Natal e sua significação. Apaixonei-me pela data e Dezembro passou a ser o segundo mês mais esperado do ano. O primeiro sempre foi Maio.
 
            O clima de Natal combinava com a idéia que tenho da própria vida – alegria, magia, confraternização, reencontro, amor, festa, FAMÍLIA. Cada ano crescia a empolgação. O desejo de promover encontros em todos os grupos que participo. De criar, inventar, fazer de cada momento um celebração a vida.
 
            Mas, (lembram que há sempre um mas?) há dois anos venho sentindo um estranho vazio, um distanciamento de mim mesma. O espírito natalino não atinge minha alma. Este ano parei para pensar sobre o assunto (mais intensamente ontem – dia da confraternização da faculdade e da academia) e me dei conta que a dificuldade coincide com a perda de papai.
 
            Embora a saudade me acompanhe o ano inteiro, é a partir de setembro que ela se intensifica. O Natal, a noite de ano, períodos que reservamos (mais intensamente) a nossa família, ficaram mais tristes depois daquele fatídico11 de Setembro.
 
            Ontem, antes de sair para confraternização chorei muito. Impotente, não consigo expulsar essa tristeza. Tento reagir. Mas, estou “tão a flor da pele” que qualquer coisa me faz chorar. Logo mais terei mais uma confraternização com um grupo de amigos e quero sorrir, brincar, ser aquela que anima, mas não sei se conseguirei...
 
            O que me consola é que (ainda) não perdi a capacidade de reconhecer o Natal como um período propício ao renascimento/reencontro. Quem sabe eu me reencontro neste Natal? 
Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 18/12/2011
Reeditado em 22/12/2011
Código do texto: T3395107
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