O encontro de família

Saímos de Uruguaiana, fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina, e atravessamos o estado para chegar a Riozinho, cidade de quatro mil e quinhentos habitantes, distante 115 km de Porto Alegre e próxima ao litoral gaúcho. O caminho entre a capital e a cidade foi marcado por muitas curvas, densa vegetação, lindas paisagens e estradas nunca antes desbravadas por nós. Era um encontro de família, o primeiro de muitos.

Sendo mais uma das viagens realizadas durante os trinta dias de férias para rever parentes, Riozinho serviu para conhecer outros familiares espalhados pelo solo gaúcho, porque de conhecidos éramos apenas nós três: eu, minha mãe e minha irmã. Recebemos, inclusive, uma homenagem por sermos os parentes que se deslocavam da cidade mais distante. Também, pudera! 730 quilômetros até lá.

Chamou-me a atenção as palavras iniciais de um tio-primo, algo assim, que não recordo o nome, ao confirmar o compromisso da nova comissão para o encontro seguinte: “Temos um costume muito ruim de nos juntarmos ante um corpo inerte, em velório. Estamos, agora, reunidos para festejar a nossa vida”. E não é verdade?

Quando meu primo faleceu, em 2003, rapidamente todos os parentes encontraram-se para velar seu corpo e participaram do cortejo fúnebre. Aparentemente serviu, ironicamente, para reaproximar minha tia e meu tio, que anos antes haviam se desentendido e nunca mais conversaram. Mas o sentimento negativo entre ambos não deixou que uma situação crítica amolecesse seus corações nem perdoasse as rusgas existentes. Aquela tragédia unira todos, mas só os aproximara na tristeza. Na alegria, todos continuavam como antes.

Isso me fez lembrar de um trágico fato ocorrido em 2010. A edição do dia 8 de fevereiro de 2010, do jornal Zero Hora, noticiou na página 28 que um noivo falecia 20 minutos antes de chegar à Igreja Nossa Senhora do Rosário, em Santa Maria, onde se casaria, após uma crise asmática. Choquei-me com a notícia e lamentei profundamente o fato. O desenrolar dos fatos parecia mais uma história de terror, de humor-negro, de qualquer coisa fantasiosa, menos da realidade. O jovem, de trinta anos, passou mal quando estava a caminho da igreja e foi encaminhado ao pronto atendimento da Unimed. Quatro médicos tentaram, durante uma hora, salvar sua vida, mas não obtiveram sucesso. Sua mãe e o irmão presenciaram toda a tragédia.

Os familiares do casal haviam se mobilizado para festejar a vida, o amor dos dois. Mas o destino passou uma rasteira e fez com que todos estivessem reunidos, agora, por causa da morte.

Meus parentes faltaram à festividade, ao culto à vida. Não apenas eles perderam a festa, mas todos os que não contaram com as suas presenças. Antes que tenhamos momentos forçados de reunião por razões deprimentes, porque a vida é assim e é inevitável, desfrutemos de aconchegantes horas de lazer com quer o nosso bem.