F5 para atualizar

Dias atrás, cheguei de uma viagem a trabalho. Três dias fora de casa, sem internet nem conversas com conhecidos. Acessei meu e-mail e uma surpresa. Diria agradável surpresa. Quarenta e duas mensagens novas. Nossa, como lerei tudo isso! Calma, sem apavoramento. Eram quatro e-mails de conhecidos e os demais, mensagens automáticas de sites onde sou cadastrado e alguns spams. Tenho cadastro em tudo que é site que acesso e me agrado. E minha área de interesse vai desde comunidades literárias, passa por similares do Guia do Hardware, sites de psicopedagogia e culmina no newsletter da BeefPoint, que me atualiza quanto ao preço do boi gordo. Gosto eclético. Lembro-me que anos atrás visualizava a previsão do tempo diariamente através dos e-mails que recebia. Mais um cadastro. E lá foi o mouse selecionando cada e-mail automático e deletando, um a um. Perguntei-me o porquê de tanta informação à disposição, se nem metade daquilo eu leio.

Gostamos de sermos aceitos num grupo, de sentirmo-nos queridos. É a busca pela interação social, pela comunicação. Somos seres que necessitam viver em comunidade. E gostamos de nos sentir pertencentes a ela. Esse número estrondoso de cadastros nada mais é que um reflexo claro desse desejo.

Embora não receba o e-mail que estou aguardando de alguém, ao menos aparece uma novidade na “caixa de entrada”: um newsletter cadastrado. Ainda que não seja a mensagem esperada, é melhor do que nada. Isso faz lembrar a máxima se você acha que ninguém se importa com você, deixe de pagar suas contas e verá que não é verdade.

Meses atrás, uma amiga contou-me que falava com um amigo através do MSN. Ele dizia que nada fazia além de teclar. Ou melhor, tinha algo a mais, sim: apertava a todo instante a tecla F5 para atualizar a página e ver se chegava algum recado novo no Orkut. Riu-se, então, ela, pois fazia o mesmo que ele. Flagra! Eu estava fazendo exatamente isto. Não era no Orkut, mas no e-mail. Em nada mudava... Os três esperavam boas novas de alguém. Uma pessoa em especial? Pouco provável. Qualquer um que fosse já era o suficiente. O importante era ser de alguém. Senti-me menos anormal. Ao menos, se o que eu fazia não era normal, teria companhia no sanatório.

Nas redes sociais, estabelecemos relações cada vez mais frias com as pessoas que já conhecemos e nos relacionamos. Inclusive, distanciamo-nos de amigos próximos. Chega-se do trabalho, do cursinho e lá vai o cara abrindo o MSN, teclando com o colega que estava ao seu lado minutos antes. Por que não se encontram e põem o papo em dia? Por que fica cada um na sua casa, falando a mesma coisa que diriam se juntos estivessem? Chega a um ponto que conversam mais no chat que ao vivo. E o distanciamento ocorre. E o indivíduo isola-se no seu mundo virtual, fala com menos pessoas ao vivo e com uma infinidade virtual. Basta perguntar-se quantos amigos virtuais há adicionados no seu perfil do Orkut e Facebook, com quantos você realmente conversa só pela internet e com quantos amigos conversa ao vivo.

Seja com cadastros de newsletter, adicionando amigos virtuais, teclando em chats, MSN ou similares, essa busca pela comunicação é interminável. Não substitui, de modo algum, o contato em carne e osso, presencial. Mas pode encurtar distâncias, apesar do risco de aumentá-las. Que suguemos o máximo das possibilidades da tecnologia, mas não nos afoguemos nela.