Feliz Ano Novo! Feliz Ano Velho!
Esta semana encontrei em casa uma correspondência perdida desde os primeiros dias de 2011. Estava ali, lacrada, intocável e virgem, mas irredutivelmente querendo me dizer alguma coisa protelada – talvez acidentalmente – durante onze meses. Pensei em esperar, pacientemente, até ela aniversariar seu primeiro ano. Daí eu faria um bolo e cantaria “parabéns pra você...” Contudo, deixando de lado o mau gosto da piada, além de não ter apreço por rituais inúteis, eu também gostaria de saber quem era o remetente que infelizmente ficou quase um ano sem resposta.
Abri. Olhei, respirei fundo e reli com calma: “feliz ano novo. Que o ano que agora nos invade, seja repleto de alegrias, prosperidade e esperança. Beijos da sua amiga fulana de tal.” Bem, de esperança e sonhos nos enchemos em todos os réveillons, pelo menos assim tem sido nos meus últimos trinta anos. Tudo que peço depende da prodigalidade das decisões que tomo e por isso mesmo só faço pedidos pra não quebrar o protocolo, o resto é fruto da minha própria responsabilidade, de como executo as minhas ações.
Ler atrasadamente estas aspirações, a mim endereçadas, deixou-me num envoltório de júbilo. Já que embora eu não soubesse que durante o ano perdurou de outrem uma vontade inequívoca de dias que me impelissem ao belo, vivi intensamente cada peleja cotidiana. Talvez eu não tenha sido a melhor pessoa do mundo, afinal, posso ter recusado qualquer devida importância à ascensão da mulher na política nacional e ao papel do feminismo, ou sequer me esforcei para sentir o perfume das flores revolucionárias da primavera árabe, nem insisti em refletir sobre a fragilidade mundial e a decenal fissura – hoje abismo – do imperialismo, os tsunamis e as chuvas sob nossas cabeças, a morte emblemática de um inimigo singular contra o ocidente, o casamento da realeza britânica; não meus caros, eu não fiz nada disso – nem de longe. Apenas contemplei uma flor que nascia no asfalto, a menina sem pátria que brincava venturosa embaixo do esguicho do chafariz, chorei o descaso e a miséria, fiquei desgostoso da política adúltera e injustificadamente corrupta deste país, entristeci-me das destemperanças e da falta de calma do intempestivo. Em contrapartida eu sorri e sorri muito, gargalhei até virar às avessas, tirei sarro das tragédias – ninguém é de ferro – e colhi delas as experiências mais fecundas. O ano de 2011 que se esvai, posso afirmar: foi surpreendentemente um dos mais excitantes.
E eis aqui a resposta atrasadíssima à minha querida amiga: “feliz ano velho colega. Pois este ano, que da mácula à quimera gastou desapiedado o seu ineditismo ao longo dos dias, realmente foi próspero, alegre e esperançoso como você previu e muito mais adjetivado com definições boas e razoáveis – alheias ao que eu desejei de fato. Provavelmente responderei à sua nova missiva de boas festas no ano que vem, mas quando este já estiver perto do fim.” Como disse antes, não gosto de rituais. Mas este de “esquecer” será uma exceção. Feliz 2012!
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