Loteria
Loteria
Nunca acreditei em loteria e ganhos fáceis. Meu Pai dizia “jogue sempre um pouquinho: sem jogar a chance é ZERO!”, uma teoria correta. Não tenho jogado em nada, nem conversa fora, estou pouco otimista. Enfim, a vida é um grande jogo, preste bem sua atenção e use a sorte para outras coisas, decline das loterias, eu desisti.
Um pouco de sorte em tudo, isso é bom, isso te salva. Hoje mesmo, quase atropelei uma criança descuidada. Ontem quase bateram no meu carro, que susto! Quase o meu amigo escorregou na porta da Igreja, casamento quase adiado... Eu quase fali... Quase recebi um piscar de olhos da Grasi massafera, quase... E a vida segue com as coisas eternamente incompletas, ou completas, depende do teu ângulo de vista e das pitadinhas de sorte.
A sorte. Como defini-la? O acaso vestido de azul? Anjos te empurrando no caminho da felicidade? Papai do Céu que, em breve momento, deixou de atender sua lista infinda de pedidos, caridades, etc.. E, por bondade divina (dele mesmo) afastou umas nuvens chatas e te deu uma dedada! Sim dedada de Deus, maravilha! Tudo se resolve e ele nem olha prá você, já notou nos quadros de Leonardo da Vinci? O soberano e todo poderoso faz seus milagres sem muito esforço, assim meio sem achar graça, sem te dar atenção. Diz a bíblia “Senhor, eu não sou digno que entreis na minha casa, mas dizei uma só palavra que minha alma será salva”... Verdade, Deus é muito ocupado com aqueles que não tiveram sorte, os que foram “fisgados” pela teoria do quase: não deram sorte, sem loteria da vida: os que moram do outro lado do mundo, o do azar. Merda. Merda pura, esse tal de não dar certo, do azar... Explica muita coisa triste, mas não explica um filho nascendo cego, uma perda pré matura de uma Mãe calorosa, um Pai alcoólatra que bate em todos, os maremotos e vulcões que assombram a nossa vida.
Não creio na sorte e menos ainda no azar: tudo é falho, tudo é volátil e breve, o ar que se respira pode te levar para o tudo ou para o nada. Não duvido da fé, senhora poderosa, ela é confiante em seu taco e vai, por aí, mudando rumos, trazendo o mal para o bem, confundindo o capeta, driblando o azar e sempre plantando a vida, passo a passo, no credo de viver melhor, sem loteria.
Meu Pai, homem de coração, pagou a cirurgia de um desconhecido que estava ao lado dele em BH para curar a vista. O velho pai, com um coração mole, se envolveu na estória de um rapaz que já cego de um olho e tinha um espinho encravado na outra vista aguardando na fila da caridade no mesmo hospital de ponta. Pagou e ficou feliz pela recuperação da vista dele próprio e do pobre desvalido camponês de Minas Gerais. Meu Pai era especial, manobrava a sorte e trocava figurinhas com azar. Bom coração e fé no sempre “dar certo”. Obrigado meu Pai.
Hoje, vou rezando na sorte e suplicando para que o a azar venha casadinho com ela. Sorte no azar. Basta-me. Sem loterias, sem milagres, com fé na sorte cobertor, cobrindo o frio do azar. As minhas noites bem dormidas é o que peço para meu bom Deus, todos os dias. E não atravessar essa vida dependente da sorte e lamentando do azar, esses dois irmãos do nada, da nossa cabeça simplista e comum, da loteria idiota da vida.
Roberto Solano