QUEM É O PORTEIRO
QUEM É O PORTEIRO?
Ouvi vozes alheias dizendo que o porteiro é aquele homem de aparência simples que permanece quase estático nas portarias de uma empresa, de um prédio, de escola e de tantos outros lugares que não consigo me lembrar. As vozes, certamente, não se equivocaram na resposta, todavia, só conhecem um porteiro até o limite materialmente visível que seus olhos alcançam.
As crianças foram bem mais sábias quando disseram que o porteiro é um homem forte, poderoso e esperto que manda na escola e ninguém pode entrar sem que ele o autorize. De início as crianças lhe atribuíram, inocentemente, três belas qualidades. Um humorista me disse que vida de porteiro é mesmo uma “portaria”, foi aí que absorvi do seu humor uma lógica interessante: se a vida do porteiro é mesmo uma “portaria”, vida-portaria e função-dedicação se transformam na grandiosidade valorativa de atribuições que esse homem possui.
Porteiro, homem atento que adquire, com o tempo, a visão de águia e uma memória de máquina. Quando faço alusão à máquina me reitero para dizer “Uma máquina humana”. Isso mesmo. Porque a maquina, em si, possui falhas mecânicas que, às vezes, minimizam sua eficiência. A memória de um porteiro vai muito além de uma máquina comum.
Veja que ele, possivelmente, sabe o nome de todas as pessoas que diuturnamente adentram no seu local de trabalho; transmite as informações primárias de responsabilidade de todos os seus pares e superiores que se encontram no interior da unidade; ele é o primeiro contato e precisa saber dar informações. Ele, quase que sem tempo de recorrer às formalidades da gramática, sabe bem os pronomes que utiliza para cada tipo de personalidade que passa por ele. Não contando, ás vezes, que alguma personalidade ignora tal forma de tratamento, ainda que aquela lhe seja devida.
O porteiro, como ninguém, sabe até a oscilação do humor de cada pessoa que ali freqüenta, dentre os milhares “Bons dias, boas tardes e boas noites” que ele deseja verbalmente em cada dia de trabalho, precisa saber o segredo de como dizer. Às vezes é necessário nem dizer.
O porteiro conhece bem esse artifício. Sua intensidade de voz nunca permanece a mesma com todas as pessoas em todos os momentos. Mas, o porteiro prima pela educação sempre. Independente do humor das outras pessoas.
O porteiro precisa ser diferente, ele consegue memorizar quem está dentro do ambiente de trabalho, caso alguém peça informação na portaria. Mesmo quando um funcionário não lhe informa de sua saída. Até porque a maioria dos chefes, talvez por questão de tempo, não possui esse necessário hábito.
Quando as portas da unidade se fecham, são os ponteiros do silêncio e da solidão que delimitam o fim do expediente, este finda para todos que ali estavam, exceto para o porteiro. De agora em diante, ele precisa ser mais que um porteiro. Se o telefone tocar, ele é telefonista; se a energia der defeito; ele é eletricista. Se o cano estourar; ele é bombeiro.
Aprendi que, em certas horas, debalde é nosso grito de socorro. Por esses e outros motivos, não temos inteira convicção em afirmar que o porteiro não é simplesmente um homem comum? Ouso dizer que todos que hoje se encontram numa posição de maior conforto deveriam um dia ter sido porteiros. Assim, no exercício da mais nobre profissão, eles repetiriam toda a experiência aprendida na portaria.
A todos os colegas porteiros do Brasil, em especial, os porteiros do Estado de Minas, o meu abraço! Que o Dia 25 de dezembro possa trazer para vocês bastante entusiasmo e boas reflexões! Parabéns! E não se esqueçam de que, para se chegar aos lugares mais importantes de qualquer palácio, a maneira mais fácil até hoje conhecida é passando pela portaria! Um feliz natal e um próspero ano novo!!!!
Admilson Munis da Silva Cruz - admilsonmunis@yahoo.com.br – Montes Claros MG