EMPATIA DE MÃE

Será?

Será que a infância atual, tem alguma coisa a ver com a infância de 3, 4 décadas atrás?

Tenho a impressão que pelo menos as crianças oriundas das classes sociais A e B, não tenham mais nada, ou quase nada. Será que só impressão? Mas tenho sim a impressão que a ausência cotidiana da mãe, já comum nas famílias que as condições econômicas assim permitem ou exigem, a ausência mais acentuada do pai - pela sua lida cada vez mais exigente - constrói uma infância diferente. Se para melhor ou para pior, isto é a grande questão.

Além da redução das fantasias, dos folclores, substituídas pela realidade antecipada da vida adulta, forjará um adulto sem tantos ideais, menos sensíveis às coisas simplesmente humanas, com valores muito diferentes, pelo despertar prematuro à realidade desse mundo real concorrido e frenético que desgastam até os adultos.

Mas tal mudança que presumo exista e que seja prejudicial, está muito mais ligada ao profissionalismo dos cuidados a que estão sujeitas as crianças. Sim, ao invés da mãe cuidando e zelando da sua cria, da convivência protegida pela aldeia mais íntima da família, pelas suas emoções, emprestando exemplos e principalmente constância de afeto materno, estão sempre sob cuidado de profissionais. É a babá, a empregada, a governanta, as tias do jardim, que por melhor que cumpram seus papéis e suas obrigações, o fazem com técnica e não com sentimento. Como obrigação profissional e não com o afeto familiar.

Imagino que podem até se sentir mais bem cuidadas, mas não proporcionalmente protegidos. Ser cuidado é uma coisa, protegido é outra, pelo menos à minha ótica. E assim as crianças vão se formando gente grande, com menos liberdade, com menor sensação de proteção, com menos fantasias, menos afeto, com muito menos empatia.

Aí está a palavrinha mágica que uma criança mais precisa. Empatia. E às vezes acho que a palavra empatia foi criada para expressar, originalmente, a ligação de uma mãe para com seu filho. Mesmo o pai. Mas mais fortemente, mais explicitamente, a mãe.

O laço materno tem o Q absoluto da empatia. A mãe pressente os sentidos da sua cria. Sente suas dores como se fosse em si mesma. Você que é mãe, ou pai, imagine que seu filho acabou de dar um pequeno corte na ponta do dedo; tenho certeza que sentirás imediatamente a mesma dor no seu próprio dedo.

E essa ligação, essa empatia, que se instala no fundo das almas miúdas, é que oferece a proteção que um ser mais necessita para uma formação com menos traumas, menos medos, menos angústia, menos aflição. Para se formar gente grande, com mais sentimento, mas valores éticos, morais, ou seja, mais empatia.

Evidente que as famílias tantas, inseridas e já habituadas às rotinas da vida contemporânea, provavelmente acharão minhas dúvidas e questionamentos como sendo pura tentativa de frear a realidade que vai se fazendo e nos levando a novos conceitos. Resta-me, contudo, saber se o caminho da modernidade dos hábitos, impostos a vida familiar, favorecem a individualidade ou o coletivo; se privilegiam o bem estar ou o “estar” moderno; a vida ou as tendências; se nadam buscando suas convicções ou apenas se deixam levar pela correnteza.

Talvez me falte uma maior dose de empatia para saber me colocar nas vontades e entendimento dos pais e mães que adotam a terceirização da criação dos seus herdeiros genéticos.

Será?

Eacoelho
Enviado por Eacoelho em 16/12/2011
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