SEM PUDOR: A CHINA ESTÁ EM TODAS
Armando era um exímio vendedor de sapatos. Foram os anos dedicados ao oficio, em uma loja, na Praça Sete, Belo Horizonte. Entretanto, os tempos agora eram outros. Por questões de logística e controle de estoques, na loja que ele trabalhava tinha um par de sapatos de cada numeração. A reposição do estoque era feita no dia seguinte. Isto causava muitos problemas aos vendedores. Sempre faltavam alguns números, pois a loja vendia muito.
Para não perder as vendas por falta de números, Armando usava algumas técnicas. As mais eficientes eram duas; a do alargamento do couro e a da meia fina.
A técnica do alargamento consistia em aumentar um número menor de sapato, usando um cabo de vassoura. Para o cliente era uma máquina importada da China. A China está em todas! Esquentávamos o sapato, com o cabo da vassoura enfiado dentro, realizando movimentos circulares. Logo, com o calor, o couro relaxava por alguns minutos. Pronto, é só botar no pé.
Às vezes, o cliente reclamava do calor insuportável. Rapidamente, falávamos.
- A máquina chinesa expande o couro pelo calor. Logo, ele se dissiparia.
- Ah, basta agüentar um pouquinho o calor, com o braseiro no pé, digo sapatos.
Assim, entrava fácil, até mesmo nos pés com joanetes e com calos. Tiro e queda!
Ah, que me desculpem os físicos de plantão.
- Não podia questionar o mestre Armando!
Caso está técnica não funcionasse usávamos a da meia fina. O mestre o fazia o cliente colocar uma meia bem fina da loja. Desta forma, o sapato ficaria menos apertado, logo entraria no pé do cliente.
- Leitores, essa é a mais difícil de colar!
Afinal, essas meias usadas nas lojas por vários clientes possuem um cheiro desagradável. O Problema era o cliente colocar a tal meia. Como contornar a situação? Daí entrava a técnica de persuasão do mestre. Ele informava que a meia tinha o cheiro horrível devido ao “poliéster” chinês. Esse material retinha o odor e o suor das pessoas. Caso houvesse alguma queixa do cliente. Ele respondia prontamente.
- Como comprovado cientificamente pelos laboratórios chineses, o mau cheiro não passa para os pés de quem usa a meia.
Continuava Armando, sem ligar é claro para peripécias da “Judith”, sua prótese dentária.
- O poliéster chinês absorve o odor, mas não transmite o cheiro para os usuários da meia.
Pior que tinha "felizardo" que acreditava, não podíamos questionar o mestre.
- Juro que também estava acreditando!
Não é todo dia que vemos um senhor ser tão convincente.
A técnica das meias, funcionava muito bem com as mulheres, pois perder um par de sapatos por falta de número é inaceitável. Elas preferem perder a mãe. Colocavam a meia chinesa sem nenhum pudor. O Armando, a Judith e os fungos e agradeciam o louvável gesto. Afinal, sapato é sapato, mulher é mulher e pudor é pudor.