http://youtu.be/S_TlWjHAQK8
 
 
 
               
                          Natal  (ouvindo a ladainha de todos os santos)
 
 
 
                        Recebo um pedido para fazer uma crônica sobre o Natal.
                        Nunca escrevi sobre o Natal. Há algo em mim que reluta em fazer isso.
                        Não estava nos meus cálculos falar sobre o dia em   que se comemora o nascimento de Cristo.  
                        Pois Natal é isso, antes que alguém se espante. Natal é a lembrança do Cristo, do Salvador.
                        Uma data que deveria ser de altíssimo recolhimento espiritual e não de pomposas festas, com muita comida e muita bebida, e ninguém pensando no aniversariante.
                        Como não sou religioso nesse sentido comum do termo, no sentido formal, de frequentar Igrejas, Templos, Sinagogas ou Mesquitas, sinto-me temeroso em abordar o Natal.
                        Li um texto antigo de Natal,  para inspirar-me, pois confesso não ser a pessoa indicada para esta tarefa.
                        Apesar de cultivar quase, secretamente, com uma ponta de vergonha,  a minha espiritualidade, na verdade,  nos últimos anos tento ignorar essa data, por ter sido tão desvirtuada, hoje  comemorada tão irresponsavelmente, tão diferente dos meus tempos de menino.
                        Poderia falar no advento do Cristo, no Evangelho, na Boa Nova, na humanidade sofredora tão necessitada do pão espiritual,  que nos foi ofertado num ato de amor,   e que até hoje não conseguimos entender essa divina mensagem.
                        Fica mais fácil para mim, também despreparado, embora consciente disso, lembrar apenas que toda a humanidade, querendo ou não, bem ou mal,   acaba por comemorar esta data máxima da cristandade.  Desta forma, o que posso fazer é me recordar do Natal dos pobres, dos miseráveis, dos ricos, dos milionários, dos virtuosos, dos pecadores, dos inocentes.
                        Do Natal daqueles que estão abandonados, dos solitários, dos deprimidos.   Do Natal dos que estão infelizes no amor. Dos que estão procurando carinho, compreensão . Do Natal dos presos, dos que nesse dia estão trabalhando de plantão, como os médicos, enfermeiros e policiais, profissionais da comunicação, dos transportes. Dos casados, dos solteiros, dos abandonados. Dos que tentam salvar seus casamentos. Dos que se desiludiram de vez. Natal de quem não gosta de Natal. Natal daquela que não consegue me entender e não sabe que gosta de mim.   Natal dos poetas, das poetisas. Natal daqueles que escrevem no Recanto das Letras. Natal dos educadores, dos que têm fé. Natal dos céticos.       
                        Do Natal dos tristes, dos doentes, dos que estão morrendo, dos que estão nascendo. Natal dos desempregados, das empregadas domésticas.    Do Natal dos pais, das mães, dos filhos, dos maridos, das esposas. Dos genros, das sogras, dos cunhados, primos e sobrinhos.  Do Natal daquele que tenta compreender e  reconciliar-se  com seu amor. Natal dos carentes, dos amigos, dos inimigos, dos que se solidarizam, dos que traem, dos drogados.    Do Natal daquele ou daquela que quer ainda ser feliz. O Natal dos alegres. Dos dramáticos, dos calmos, dos bons e dos maus.  O Natal dos suicidas, dos desesperados. O Natal dos que gritam, reclamam. O Natal dos que calam. Dos que não perderam a esperança.  Dos que estão em paz.  Enfim, o Natal de toda a humanidade que teima em viver, apesar de tanto sofrimento.
                        O Natal, finalmente, do grande esquecido.  O  Natal  de Jesus Cristo.