Solidariedade, irmão.

Todo dia bem cedinho, por volta das seis e meia, saio de casa rumo à academia. No trajeto sempre passo em frente a uma casa bem velha, caindo aos pedaços, de dar dó, mas que logo na janela da frente ostenta, talvez como único adereço, um adesivo de campanha da Presidente Dilma. Sempre a vejo com uns cães na porta e um senhor idoso, provavelmente doente, a olhar a rua pela fresta da janela da frente, a mesma do adesivo da Presidente Dilma. Nada contra a Presidente Dilma, nem a favor, a Presidente Dilma é a Presidente Dilma e continuará sendo a Presidente Dilma independentemente de meu voto ou opinicão. Apenas gostaria que um dia a Presidente Dilma pudesse sentir o que senti quando me deparei frente a frente com o desolado olhar daquele velho, um olhar perdido no horizonte, sem transparecer o mínimo sonho de futuro dentro de uma sociedade consumidora e gananciosa, sem a mínima esperança, apenas olhando o passar do tempo e da dor, amargando qualquer um que fitar. E enquanto o tempo passa, a dor perdura... Sem comida, sem família, sem amigos, sem saúde e sem qualquer sentimento inerente ao valor da vida, da moral, ciência ou religião, é um animal velho, abandonado para as hienas, que ainda pensa em ser humano.

Passo e olho, a casa fica quase ao lado da academia, e aquele maldito olhar, que tanto me faz sofrer e desanimar da humanidade, aquele ambiente miserável, aquela deplorável falta de condições, perspectivas e contrária aos ditames inerentes à dignidade da pessoa humana, tudo isso me enoja e desilude a ponto de querer dar meia volta e voltar pra casa, deitar com o cabeça no travesseiro e nunca mais acordar; ao mesmo tempo em que sinto uma fúria descomunal contra a raça humana, cruel, hipócrita, mesquinha. Mas não, o velho confinado naquela casa anseia apenas para que não demore, que venha logo a morte, chega de dor, chega de restos de vida, de dias lutando contra a doença, a fome, a solidão, a discriminação e a angústia...

E diante tudo, a vida prossegue, e ainda acredito na humanidade.

Se alguém mais, assim como eu, se comove e se comoveu com este singelo depoimento, e queira ajudar com o que pode, fica o endereço da precitada pessoa carente: Rua Capitão Olímpio Alves, nº 1.007, Centro, Miguelópolis/SP – Cep 14.530-000.

De qualquer forma, obrigado por ter compaixão. Sua consciência agradece!

SAvok OnAitsirk, 14.12.11.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 15/12/2011
Código do texto: T3390372
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.