Confraternizações
O dinheiro serve pra tudo mesmo. Inclusive, ou sobretudo, para a eliminação física das pessoas. A guerra dos USA com o Iraque durou 9 anos. Agora o Obama anuncia a retirada de suas tropas, até o próximo 31, do país que eles invadiram. Foram mortos cerca de 4 mil americanos e 60 mil perderam a vida do outro lado. Custo da guerra: US$ 4 trilhões. Dois objetivos: apropriação indébita ou expropriação do petróleo iraquiano, por trás da alegação, nunca comprovada, de que aquele país estivesse enriquecendo urânio para fins bélicos; e a venda ou comércio, para ambos os lados ou pro planeta, de armamentos militares e seus correlatos.
A invasão do país culminou com o assassinato do líder Saddam Hussein, tido como um ditador sanguinário, como se sanguinária não fosse a campanha que proporcionou o extermínio de 64 mil vidas.
Você tem que arranjar uma guerra aí, Presidente (dos USA), pra gente poder vender nossos aviões militares, mísseis, munições de todos os tipos, etc. Não importam as perdas de vidas. Tem muito negro aí e cidadãos de segunda categoria (xicanos e imigrantes naturalizados) dando sopa. Doidos pra engordar as fileiras do exército. E o Presidente não teria alternativa. Era preciso pagar as despesas com a campanha eleitoral. Os credores certamente cobrariam as suas aplicações.
E é essa a serventia do dinheiro. Os valores morais, as palavras bonitas e escolhidas a dedo, os discursos banhados no civismo e na apologia da ética e do entendimento entre as nações ficam para épocas como essas – o Natal e o Ano Novo. São válidos apenas nas confraternizações. Depois podem perder o sentido.
Estamos habituados a entender que o dinheiro compra tudo. E nesse tudo estão a morte e a vida. Quanto à morte, não temos dúvida. Quando não existem guerras, as potências apressam-se em fabricá-las. Porque as indústrias necessitam vender seus armamentos encalhados. Com relação à vida é um pouco diferente. Haverá sempre uma doença incurável pra encher o saco da gente, apesar dos avanços da medicina. Ou a cabeça dos cientistas, esses descobridores de bactérias, bacilos, vírus, células-tronco, micro-organismos enfim que empentelham o chão do nosso banheiro. E haja dinheiro para essas pesquisas.
Se então 20% do capital que usamos para comprar a morte fossem usados para conquistar a vida, com a erradicação da fome e das desigualdades sociais, pelo menos, além de vivermos mais, o que já estamos conseguindo, certamente viveríamos mais felizes. E as nossas confraternizações seriam mais sadias. Porque não teriam por trás delas a sombra de empresas/indústrias não necessariamente produtoras de comida.
Rio, 14/12/2011