Puteiros e jardineiros

Flagrantes da vida real nos puteiros.

Biu Penca Preta entrou no puteiro com intenção de comer a dona.

- Vai querer o que? – perguntou um sujeito mal encarado, careca e feio como a necessidade, que atendia pelo nome de Topada.

- Quem é a dona do puteiro?

- Minha mãe.

- Sua mãe?

- Vai querer o que?

- Vodka.

- Só tem cachaça.

- Serve.

- Mais alguma coisa?

- Desculpa perguntar, mas sua mãe parece com você?

- Parece.

- Então me vê só a cachaça.

Doutor Sócrates chegou em João Pessoa, Paraíba, para uma missão humanitária do UNICEF. Quando desembarcou no galinheiro que chamam de aeroporto, o Doutor foi recepcionado por um babão que levou o homem para o Hotel Tambaú.

- “Pra mim não precisa de nada disso: basta um quartinho com ventilador, frigobar com cerveja e o endereço do puteiro em cima da mesa”- disse Sócrates.

Levaram o homem para comer no Mangai. Ele explicou que estava de dieta líquida, não comeu quase nada e ficou estarrecido quando soube que o restaurante não servia bebida alcoólica. A proprietária mandou comprar cerveja só para o craque.

Meu compadre Ameba teve uma noitada mal sucedida. No sábado, foi ao baile. Ao entrar no clube, prendeu o dedo na “borboleta”. Mais tarde, já no salão de dança, meteu-se numa confusão onde tomaram sua namorada, foi espancado e ainda perdeu um pé de sapato. Saiu da boate sob uma chuva fina e fria do mês de junho e ficou do lado de fora matando a fome com cachorro quente. Pra curar a dor de cotovelo, resolveu ir ao cabaré. Arrumou uma puta melodramática. Passou a noite toda consertando o relógio de cabeceira da quenga e dando conselhos para que ela abandonasse aquela vida.

Os puteiros existem desde a epóca da Familia Dinossauro e é uma das instituições mais sagradas da historia mundial, assim como a Igreja Catolica, a Maçonaria, a Coca-Cola e os times de futebol.

Os puteiros são conhecidos por vários nomes: Zonas, Cabarés, Antros de Perdição, Escolas do Sexo, Casas da Mãe Joana, Casas da Luz Vermelha, Bordéis, entre outros. Na cidade de Itabaiana, famosa pelos seus cabarés, o “antro da perdição” era conhecido por Manichula, Carretel, Malvinas, “Fura Couro” e “Vai quem quer.” Dizem que um padre conseguiu ligar as duas instituições mais velhas do mundo: armou um cabaré na porta da Matriz, com os dividendos em benefício das obras da Igreja.

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O jardineiro que era doutor.

Hoje é dia do jardineiro. Meu espírito imisericordioso lembra um jardineiro que conheci na cidade de Mari. Existia um conteúdo de amor à vida natural e à beleza das flores no trabalho de Pedro, o jardineiro. Entretanto, ele estava no cargo mais por incúria, perseguição política e primarismo de um prefeito semi-analfabeto.

Pedro, o jardineiro, gostava de tomar uns gorós. Depois que engolia umas cabumbas, saía pelas ruas gritando:

- Mari, terra onde o prefeito é analfabeto e o jardineiro é doutor!

Na verdade, Pedro era apenas licenciado em letras por uma faculdade estadual. Mas, para todo mundo, o que importa é o canudo de ensino superior. Quem terminava a faculdade era doutor, e pronto.

A energia cachacista compulsiva do jardineiro não impedia que lecionasse na escola. Professor Pedro de tarde, jardineiro pela manhã e bêbado à noite. Soube que meu compadre Pedro deixou de tomar cachaça. Agora é só doutor e professor. Também não exerce mais a função de jardineiro. Ainda planta sua mudinha de violeta ou murta no quintal. Abandonou suas rosas, dálias, manacás, lírios, margaridas, esporinha, veludo, brincos de princesa, beijos, violetas e jasmins na praça pública. Não suja mais as mãos na terra, com a intimidade que a natureza concede. Perdeu um pouco seu amor pela terrinha onde mora, desprezou o jardim onde podava galhos, replantava mudas e criava seu próprio paraíso.

A grama limpa e bem aparada de outros tempos deu lugar aos barracos, lanchonetes e botecos mal ajambrados, plantados nas praças do lugar. A cidade meio que desfigurada, sem um doutor para cuidar das flores. Mas, o prefeito continua analfabeto.

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 15/12/2011
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