Chiclete de ontem

Eu adoro chiclete duro e sem gosto. Consigo mastigar um durante horas. Depois eu jogo fora e vejo aquela pedrinha quicar pelo chão, de tão rígida.

Quando eu era pequena, eu guardava o meu chiclete mastigado. Eu gostava de Ping-Pong verde. Engraçado que depois que cresci, comecei a gostar de Ping-Pong rosa – bem melhor. Hoje em dia nem sei de qual mais gosto. Aliás, Ping-Pong ainda existe?

Voltando a quando eu era pequena, eu guardava o meu chiclete grudado em algum canto da casa. Não sei exatamente por quê. Quando a gente é criança, faz um monte de coisas sem razão, mesmo. É o comportamento regido pelo ID. Aliás, esse tal ID é o maior barato. Diz que ele não tá nem aí pro abacaxi. Faz o que dá na telha, ou melhor, na nossa telha. É ele o responsável por aquela noite em que você resolveu se declarar para o carinha que se gosta. É dele a culpa de você ter torrado seu precioso salarinho em uma bota linda, propícia para uma temperatura de -25º. É ele que não pensa, que diz “vai!”, “faz!”, “se joga!”, e era ele que dizia: “Gruda o chicletinho ali na quina da mesa, anda!”.

Então eu grudava.

De Bubbaloo eu nunca gostei muito. Era mais caro e macio demais. Às vezes eu comprava Bubbaloo na saída da escola, na barraquinha de uma senhora muito boazinha e velhinha, que um belo dia caiu durinha como meu chiclete. Eu comprava o Bubbaloo, partia ele ao meio e engolia só o caldinho de dentro. Delícia! Hoje em dia eu sei que vendem o caldinho do Bubbaloo separado, num pacotinho. Gênio quem inventou isso. Fosse durante a minha infância, eu teria me empapuçado. É que hoje em dia não gosto mais desses negócios muito artificiais. Quem diria. Logo eu que comia tudo quanto era porcaria. Enchia copos e copos com neve do congelador, comia leite em pó com Nescau puro e só gostava de bolo cru. Salvo o bolo cru, do resto eu não gosto mais. Então nunca comprei o saquinho com caldinho de Bubbaloo.

Quando eu era criança ainda, de vez em quando apareciam aqueles chicletes americanos nas mãos das meninas com mais grana na escola. Raros aqui na época, faziam o maior sucesso no recreio. E até eu, que não gostava de qualquer chiclete, ignorava facilmente o meu pacote de Skiny por um pouquinho do chiclete a metro, chiclete em pó, bala-chiclete e todos os outros tipos. Tinha também um outro chiclete que eu adorava, brasileiro mesmo. A gente chamava ele de azedinho-doce. Não sei se esse era o nome, mas ele era realmente azedinho-doce e chegava a travar o maxilar. Hoje em dia eu só como chiclete sem açúcar, mas se existisse o azedinho-doce, talvez me rendesse a ele.

Eu adoro a palavra “chiclete”. É bom de falar. Chiclete, chiclete, mastigar chiclete! Por que diabos será que paulista não fala mastigar chiclete? Por que eles falam mascar chiclé? Goma de mascar? Chicle de bola! Gente, me irrita um pouco isso. Eu sou implicante com os chicletes moles e com os paulistas. Na verdade tem mais um monte de coisas com as quais eu implico, mas é melhor parar por aqui. Comecei escrevendo porque estava com preguiça de jogar meu chiclete fora (este já passeia pelos meus dentes há quatro horas e tem um discreto sabor de canela) e acabei escrevendo sobre um monte de coisa que nem queria. Melhor vencer a preguiça e ir até o lixo logo. Isso aqui está ficando pessoal demais, sabe...

Cris Souza Pereira
Enviado por Cris Souza Pereira em 12/12/2011
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