Fantasma dos Natais Passados
E alguém então faz um comentário triste: vivesse em 2011, o João de Santo Cristo não veria as luzes de Natal ao chegar em Brasília. Chegou o Natal, ou as suas vésperas, mas a cidade ainda não se deixou contaminar por ele. Isto é, menos o comércio, que está desde outubro comemorando a vinda do Papai Noel - atenção, crianças, não é o nascimento dele que estamos comemorando, ok? E outra pessoa diz que o Natal desse ano parece estranho. E diz isso muito provavelmente porque não teve tempo para pensar que ele estava chegando. Ah, se ela fosse uma criança de 10 anos e morasse em São Bento do Sul, como um dia eu fui!
Modéstia à parte, eu me antecipava ao comércio. Já disse uma vez que pelo final de setembro eu já começava a contagem regressiva - marcava dia por dia em um quadro-negro na garagem de casa. Algo como "faltam 112 dias para o Natal". Que esperava eu? Nenhum presente em especial, é certo. Eu nem acreditava mais - crianças, vão ler outro colunista agora - em Papai Noel. Provavelmente era o ambiente. Ele começava a ficar diferente no momento de colocar luzinhas no lado de fora da casa. Havia todo o trabalho de identificar o pisca-pisca que não piscava mais, aquele que havia queimado de um ano para o outro.
Por toda a cidade havia pessoas fazendo o mesmo, e então, algumas noites antes do Natal, eu saia com meu pai de carro para rodar a cidade e ver como ela estava enfeitada e brilhante. Acho que isso foi herança do pai dele, que fazia o mesmo no Natal com os filhos. Se não me engano, levando ainda a alguns presépios da região. Na minha infância não houve muitos presépios. Lembro apenas daquele que existe até hoje na casa da minha vó, com direito a todos os reis magos - aliás, esse presépio inclusive tem quatro reis magos - além de uma infinidade de animais, e até mesmo uma bucólica ponte sobre um lago com patinhos natalinos.
Mas eu falei em Papai Noel, e houve um tempo em que acreditei nele. E como não havia de acreditar, se eu via ele por todo canto? De vez em quando, ele inclusive andava de ônibus em São Bento - será que ainda anda? Alguém pode me confirmar? Eu morava lá na 25 de Julho e ficava na frente de casa esperando o ônibus em que ele estaria, porque então a porta seria aberta e ele nos jogaria montes de balas. Alguém dizia: "Ele vai estar no ônibus das duas". Eu esperava ansiosamente. Vinha o ônibus das duas, e nada. Vinha o das três, e nada. Só no dia seguinte é que eu teria a rápida alegria de receber os seus doces.
Lá em casa, ele colocava os presentes debaixo da árvore de Natal. Na noite do dia 24, eu sequer conseguia caminhar da sala de jantar para a cozinha: para isso, era preciso atravessar um pedaço do corredor, e então eu corria o sério risco de dar um flagrante no Papai Noel. Deus me livre isso acontecer! Eu não saberia como reagir. Passava então de costas, ou simplesmente fechava os olhos. E felizmente, nunca o flagrei. Sempre que cheguei ate à arvore, os presentes já estavam lá.
Mas eu me animei a escrever sobre o Natal, e agora já acabou o espaço. Vocês tenham paciência que na semana que vem o Fantasma dos Natais Passados continuará assolando esta coluna. Até breve.