É sempre amor... Parte I - Manias

Trilha sonora: É sempre amor mesmo que mude - Bidê ou Balde

I - Manias

Eu sabia todas as suas manias. Sabia como ela mexia no cabelo – quando estava tímida ela enrolava pequenas mechas nos dedos e quando queria fugir do assunto, observava as pontas do cabelo, desviando o olhar; Sabia como ela mexia as pernas incansavelmente e mordia o canto dos lábios, quando estava nervosa; Sabia até da mania que ela tinha de pedir desculpas pra todos e pra tudo, até pro seu cachorro quando esbarrava nele... de tão educada, pedia licença a tudo também; Manias estranhas, eu sei. Mas me encantavam.

Ela não conseguia andar ao meu lado no carro quando viajávamos sem colocar os pés no para-brisa. Achava tão engraçada a mania de ela cheirar os livros antes de começar a ler – segundo ela, era pra guardar o cheirinho de cada história.

Ela tinha mania de contar mentalmente as coisas quando estava entediada, contava carros, contava pessoas, contava nuvens – quando ela me confidenciou essa mania eu não pude parar de rir. Ela gostava de ler palavras de trás pra frente e ficava inconformada quando não era possível pronunciar alguma.

Ela rabiscava aspirais e cubos enquanto falava ao telefone e, além disso, mudava a voz nas ligações. Eu achava tão engraçado como ela fazia uma pergunta, pensando alto e depois, ela mesma respondia, sem dar-me tempo de fazê-lo.  

Ela tinha mania de fazer caretas sem mais nem menos, mas sempre me arrancando um sorriso. Ela não conseguia dormir de travesseiro, por mais que eu insistisse, ela sempre jogava no meio da noite. Por falar em dormir, ela raramente conseguia ficar acordada até mais de uma hora da manhã, às 22h o sono já estava batendo. Ela sempre vivia com uma música na cabeça, sempre, sempre, sempre – e adorava cantarolar. Eu sabia que se não cantava é porque algo a incomodava.

Hoje, 6 anos depois, me pergunto se ela ainda tem as mesmas manias. Éramos tão novos, namoramos dos 15 anos aos 20. E tudo acabou. Assim, sem um motivo consistente. E eu não a vi mais. Deletei das redes sociais, apaguei o número da agenda – mas não da memória, é claro. Tentei ligar um dia, alguns meses depois, só pra ouvir sua voz, pra conversar, dizer que pensei nela e que estava com saudade, perguntar como estava, contudo o número já não existia mais. Será que se mudou? Não me atrevi a perguntar pra algum amigo em comum sobre ela e ninguém comentou. Só me disseram que ela perguntou de mim uma vez, bem na época em que eu tentei namorar outra pessoa, mas esse namoro foi um fracasso, pois eu só pensava nela. O que será que ela faz? Será que terminou a faculdade de veterinária? Será que construiu sua tão sonhada clínica? Será que ela continua linda e meiga como antes? Será que ela ainda tem as mesmas manias?

(continua)

Devoradora de Palavras
Enviado por Devoradora de Palavras em 12/12/2011
Reeditado em 15/12/2011
Código do texto: T3384710
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