DE DENTRO DO AQUÁRIO
Era sábado. Levantou cedo, pois tinha que levar seus filhos ao colégio. Eles tinham uma apresentação a fazer. Uma feira, alguma coisa assim. Sentiu-se cansada com esse compromisso tão fora de hora. “Por que inventaram isso?”
Fez tudo que tinha que fazer correndo, tinha que sair logo. As crianças agitadas, procurando coisas de última hora, tudo de repente desapareceu: tênis, camisa, mochila. “Ai, Deus! Me parece um massacre a vista!”
Saem correndo.
Na escola, ela procura um lugar para sentar. Não quer ficar desfilando vendo barracas pelas quais não se sente interessada. Nada ali lhe desperta atenção. Tudo tão cansativo: aquela gritaria, aquela correria, aquele som alto, mães falando sem parar sobre seus filhos. Tudo cansativo demais.
Termina a feira. Seu filho vem carregando um peixe pequenino, dentro de uma sacola, que ganhou em uma barraca. “Céus! Mas essa agora! O que eu vou fazer com esse peixe? Mas um para eu cuidar!” mas ele estava tão feliz que ela não teve outro jeito a não ser levá-lo junto.
Pararam para comprar um pequeno aquário, pois o peixe não viveria muito tempo dentro da sacola.
Escolheram um aquário pequeno,pedras coloridas, enfeites, outros peixes. Montaria um cidade para o peixinho e dariam a ele outros companheiros para não se sentir só.
Em casa, o seu marido instala o aquário. Ficou bonito, colorido, luminoso. Colocaram os peixes e logo depois um pouco de comida. Quando a comida caiu,eles nadaram afoitamente beliscando um pedacinho aqui outro ali. Pareciam felizes em sua casa nova.
“Como alguém pode parecer feliz tendo tão pouco espaço para ir e tão pouca opção?” ela pensa enquanto observa junto com a família o nadar feliz dos peixinhos que sem saberem remexeram com o seu íntimo tão fragilizado.
“Sinto-me como esses peixinhos: sem opção. Tenho uma casa, comida, lugar para me esconder, mas não opção. Não tenho para onde ir. Ficarei eternamente girando, girando e indo para nenhum lugar”. Aquela certeza de que sua vida parecia com um aquário a fez sentir o estômago embrulhar. Um calor subiu pelo seu corpo, sentou-se. Precisava acalmar-se. Não gostou de saber que não tinha opção. Não gostou de se ver dentro de um aquário. Mas o seu aquário é diferente. Ele não tem vidros que a prendem, o que a faz se sentir presa é ela mesma. A sua vida é demais para ela. Se sente sufocada, agitada, impaciente como ser fosse nada.
À noite, sem sono, fica observando os peixinhos que diferentes dela ficam cada um de um lado do aquário. Eles parecem dormir e ela fica ali sentada olhando, esperando que um faça um movimento para que a espante, a afaste dali. Eles querem dormir não querem ser observados, a hora do show já acabou. Amanhã eles começarão a nadar de um lado para o outro fazendo cada um o seu papel e ela terá de fazer o dela:seja qual for.