TRAIÇÃO DA JUDITH

Precisava trabalhar, afinal estava na cidade grande. Então, por sorte ou azar, consegui uma vaga de vendedor de sapatos em uma loja popular em Belo Horizonte. Tempos difíceis aqueles, bom mesmo eram as brincadeiras no ambiente de trabalho.

Lembro – me que o vendedor mais antigo da loja era um sujeito chamado Armando. Ele era tido como um mestre pelos demais vendedores. Tinha um grande bigode e usava uma dentadura.

- Isso é uma perereca!

- Não vou questioná-lo o Armando! Afinal não sou protético e muito menos dentista.

Ele nos contara que tinha perdido todos os dentes, ainda muito jovem, numa cidade do norte de Minas Gerais. No inicio sentia vergonha da perereca, principalmente dos seus saltos ornamentais e de suas acrobacias dentro da boca. Um dia, um colega, encontrou a perereca dentro de um copo comunitário da loja.

- Para espanto geral, leitores! Não tinha dono! Filho feio não tem pai mesmo!

Demoramos a descobrir que era do Armando. O enorme bigode servia de esconderijo para a janela bucal, caso o destemido “réptil” procurasse outro trampolim pela vida afora.

- Ele me confessou, um dia, que a sua perereca, respondia pelo nome de Judith.

- Ah! Também falou que não era feliz no amor. Maria Assumpção, sua ex-esposa, havia lhe traído muitas vezes na vida.

- Traição! Só da Judith! Falava Armando. .

A primeira traição de Judith foi num bar no centro de Belo Horizonte. Pediu um conhaque e um torresmo, como de costume. De tão cabeludo o torresmo, Judith se assustou e rompeu em dois pedaços.

- Isso mesmo, leitores! Em dois pedaços.

Naquele momento, fiquei com pena da Judith. Pior de tudo foi o mestre colá-la com durepox e cola super bonder. A grana era curta, por isso tomou essa medida extrema. Assim, Judith ficou mal colada, torta e ainda mais saltitante.

Na semana seguinte, para tristeza do Armando, numa rodada de conhaque, ela fugiu com o garçom.

- Isso mesmo, leitores! Quando ele recolheu o prato com resto de Kaol.

A partir desta data Armando começou a tomar fluoxetina. Fizemos até campanha pelo retorno da Judith. Quando no mês seguinte, surgiu o “réptil” na porta da casa do mestre.

-Diziam que Judith não gostara dos mimos do novo dono!

Osório Antonio da Cunha
Enviado por Osório Antonio da Cunha em 06/01/2007
Reeditado em 12/05/2007
Código do texto: T338465
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