A MENTIRA E A VERDADE!

"Uma verdade que é dita com má intenção derrota todas as mentiras que possamos inventar".(William Blake)

A vida não pode ser alicerçada, quando a mentira é uma constante, pois os valores éticos são os grandes pilares para uma existência plena. Esses pilares são rapidamente destruídos na ausência da verdade. Contudo, em determinadas situações, a franqueza extrema, procurando externar toda a verdade, sem omitir nenhum detalhe, pode ser inconveniente e bastante prejudicial. Nós humanos, somos limitados e muitas vezes caímos no transcorrer de nossa existência terrena.

O perdão é uma dádiva de pessoas iluminadas, logo nem todo mundo está disposto a concedê-lo. Nossa história é de uma pessoa que foi correta em toda sua vida, falhou apenas uma vez, teve coragem de assumir que errou e pagou e ainda continua pagando caro por ele. Pois não foi perdoado, apesar de nunca mais ter cometido o mesmo erro.

Alcebíades José da Fonseca, indivíduo metódico, honesto e sincero. Nunca tinha cometido em seus quarenta e tantos anos, nenhum desatino até aquela data. Procurando sempre seguir os preceitos da Santa Madre Igreja, participando religiosamente das missas dominicais. Para nada dar errado, planejava sua vida diária com antecedência, anotando em um diário, aquilo que iria fazer no dia seguinte. Incluindo em seus escritos, as tarefas diárias, os encontros com amigos e as compras no shopping. Casado com uma linda mulher, cuja união gerou 3 filhos (um menino e duas meninas).

Lembro-me que na ocasião, estávamos comemorando o aniversário de outro amigo. Uma festinha entre colegas de trabalho. Portanto, uma comemoração sem os familiares. Havia muita comida e cerveja. Eu e Fonseca estávamos sentados em uma mesa, enquanto a maioria dos colegas dançava ao som de música sertaneja. De repente, Maria, uma colega de serviço, sentou-se em nossa mesa, passando a prosear conosco. Era uma moça baixinha, morena clara, magra e sem nenhum atrativo físico. Depois de algum tempo, deixei os dois conversando e fui embora para casa.

Como mudei de setor, perdi o contacto com meu amigo. Entretanto, passados seis meses da bendita festa veio a “bomba.” Fonseca foi pego em adultério. – Mas isso é impossível! Disse eu estupefato. No entanto, no Bar da esquina, não se falava de outra coisa. Tudo começou naquela festa: ele e a Maria saíram juntos e foram direto para um Motel, comentou seu chefe imediato, com o copo de cerveja na mão. – como foram descobertos? disse eu vencido pela convicção de meu interlocutor. - Mauro os viu saindo do motel e ligou para o marido dela. -Como ele teve coragem de fazer uma intriga dessas? - Aquele lá, não tem papas na língua e não gosta do Fonseca. – como ficou, quis saber? – Bem vou te contar tudo, por favor, não me interrompa.

Animado, tomou mais um gole de cerveja e iniciou a fatídica narrativa. O marido de Maria, assim que tomou conhecimento do fato levou-a, até a casa de Fonseca. Chegando lá, muito exaltado tocou a campainha. A mulher de Fonseca atendeu a porta. Muito nervoso, disse a ela que queria falar com seu marido. Nesse momento, Fonseca chegou à sala e encontrou sua mulher conversando com o dito cujo. O homem foi logo dizendo a ele: - fiquei sabendo que você está saindo com Maria, é verdade? Fonseca olhou para esposa, depois para Maria e finalmente, encarou firmemente o marido traído, dizendo sem pestanejar: - “nós transamos sim, mas, somente 2 vezes”! O homem ficou desconcertado, pois não esperava tal confirmação. Disse então: - olha: agora você vai cuidar dela, virou as costas e saiu sozinho do recinto. Fonseca, muito sem graça deu o dinheiro do táxi para Maria voltar para sua casa.

Tudo isso, levou a separação do casal. Hoje, passado muitos anos, amargurado, Fonseca vive sozinho, sem a mulher e as crianças. ela mudou para outra cidade, levando os filhos. Todo esse drama, possivelmente poderia ser evitado. Se Fonseca naquele momento tivesse negado o fato consumado. Tivesse dito convictamente ao marido, que nutria apenas um grande sentimento de amizade pela esposa dele. Afinal ele e Maria trabalharam juntos durante muitos anos. Confirmando apenas que havia dado carona algumas vezes, mas que sempre a tinha respeitado.

Quanto à delação de Mauro, ele era inimigo de longa data de Fonseca, seria apenas uma maldosa intriga. Talvez, caro leitor, fosse essa a melhor versão de um fato consumado, irreversível, que não tem reparação. Obviamente, uma deslavada mentira, hipocritamente relatada. No entanto, ficaria a dúvida, nunca a certeza da traição. Possivelmente as feridas fechariam mais rapidamente, do que a verdade dita daquela forma e na presença de todos.

João da Cruz
Enviado por João da Cruz em 12/12/2011
Reeditado em 17/12/2012
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