Os anos 90
Eu vivi num tempo diferente desses de hoje... Os garotos jogavam bola nas ruas com os chinelos marcando as traves do gol. Brincávamos de pique - esconde (que na maioria das vezes, servia de pretexto para arrebatar algum beijo de alguma garota), polícia e ladrão, e todo mundo curtia mamonas assassinas...
Todos soltos nas ruas e de repente se ouvia uma voz surgindo ao longe gritando: “Começou!” e todos corriam pra frente da TV de alguém pra ver os “Cavaleiros do Zodiaco” ou o Goku salvando o mundo pela trecentésima vez no “Dragon Ball” e depois, todos às ruas de novo. Não quero dizer aqui que era uma infância cor-de-rosa... A violência existia e sempre existiu, mais não era tão gritante quanto hoje... Havia mais paz.
Se eu fechar meus olhos agora e me concentrar bem, eu sou capaz de sentir o controle de um “Super Nintendo” em minhas mãos e me ver jogando os grandes clássicos da época. Era praticamente uns dois ou três por semana...
Minha infância ainda foi povoada pelos “trapalhões” que passavam na TV, isso sem falar nas conversas restritas a garotos da época.
O sexo era coisa nova pra nós. A primeira mulher que em vi nua em pêlo (e muitos pêlos!) foi a Marina Lima, numa “Playboy” de nem sei quando, que fora pega furtivamente de um colega de trabalho da minha mãe numa das minhas idas ao trabalho dela... E que fazia um esforço heróico pra escondê-la da minha mãe.
Não era tudo escachado como hoje.
Hoje em dia você vê pornografia de graça na internet, ou compra um DVD em um camelô; mas antigamente não...
Pra se começar a ópera, devia-se ter primeiro um video-cassete, e depois a fita de sacanagem que alguém pegou escondido do pai. Daí, ia todo mundo pra casa do “Joãozinho” jogar vídeo-game. Botavam a fita no vídeo torcendo pra ele não “mastigar” o material e ali estava a cópula, o “ato” nas vinte polegadas da TV da sala de alguém que saiu pra trabalhar e deixou o filho em casa... E se formava a turma de marmanjos em frente o aparelho.
E o sujeito que tinha as safadezas em casa era considerado o “Rei” da rua.
Para os menos afortunados que não tinham a felicidade de ter um rei em sua rua e nem tão pouco um vídeo-cassete em casa, o jeito era aguardar até sábado de madrugada, por na Bandeirantes (ou Band), e ver “Emanuelle” a deusa da puberdade de muitos homens que me leêm agora... Os garotos de hoje em dia vivem em haréns!
Mas jamais saberão quem foi “Emanuelle”, a musa das madrugadas de sábado a noite, e que deixava muita gente com dor nos rins.
Inclusive eu.
Eu era um garoto normal, nunca tive nada de estranho. Tinha amigos, vizinhos... Enfim, coisas normais que todo mundo tem.
Bebia Coca-Cola, Seven-Up, Sukita e Grapete. Sem falar, é claro no bom e velho Tobi.
Haviam carros, e toda a gente que há hoje, mas nós éramos diferentes, corríamos e vivíamos em nosso passo, com nosso ritmo...
Diferente desses pequenos robôs de hoje em dia, com seus super computadores de ultima geração e seus cinco vídeo-games ultra modernos. Ninguém tinha celular, mas todo mundo se falava; e não tinha também essas sacanagens de redes sociais - que a meu ver não servem de nada além de tirar as pessoas do mundo real e trazer pro virtual.
Eu joguei futebol de prego com as saudosas moedas de um centavo, ralei meus joelhos inúmeras vezes pela rua, eu ouvia mamonas assassinas e musicas descentes nas rádios; fiz lanterna com lata de Nescau e aderi também à moda dos patinetes. Eu tive um pirulito que virava helicóptero, tive bonecos e também tive quem brincasse comigo e não tenho a mínima vergonha de dizer tudo isso.
E quando eu vejo os garotos de hoje, as crianças de hoje e que serão futuramente os adultos do amanhã, eu sinto uma nostalgia imensa dessas coisas pequenas que ficaram pelo caminho.
Coisas essas que só quem viveu lá, nos anos 90 se lembra ao ouvir “Pelados em Santos”...