derivações de uma mesma paixão semanal

Eduardo não sabia o que fazer. Estava a caminho da sala da diretora, lugar onde boas coisas não tendem a acontecer. Pelo menos não para os alunos mandados para lá. Sabia que não devia ter dito aquilo. Afinal, dizer para um professor que talvez o x não quisesse ser encontrado era filosofia demais para uma aula de matemática. Entrou na sala, conversou com a secretária e foi instruído a aguardar ser chamado. Sentou em um banco do outro lado do recinto e começou a olhar em volta. Cantarolava músicas na cabeça e procurava arquitetar uma desculpa perfeita, daquelas que o único e exclusivo culpado era o próprio x da questão. Literalmente. Depois de alguns minutos de espera foi chamado pela diretora. Surpreendentemente, ouviu uma bronca leve, daquelas bem toscas.

Dois minutos foram suficientes para que Eduardo se visse fora daquela sala. Se conformou e tomou o caminho de volta para a sala de aula, quando de repente aconteceu. Foi rápido, enigmático. Um olhar. Um olhar junto com um sorriso. Era Mônica. Eduardo nunca havia mantido contato visual com uma garota por tanto tempo. Foram incríveis 3 segundos e meio. ” E o sorriso? O que foi aquele sorriso? ” – pensava ele, enquanto tentava entender o que havia acabado de acontecer. Já conhecia Mônica. Ruiva, óculos, olhos verdes, roupas combinando. O que afinal havia de diferente nela? Seguiu seu rumo em direção à sala de aula onde o professor continuava na busca pelo mesmo x de anteriormente. Sentou na sua carteira e começou a pensar.

Pensava em Mônica, e no quanto sua beleza havia se destacado nos últimos minutos. Ela tinha uma aparência particular. Não era incrivelmente bonita, no entanto Eduardo compreendia as ramificações de se envolver com uma garota incrivelmente bonita. ” Espere, me envolver? ” – era sutil, porém Eduardo estava sendo pouco a pouco convencido ( por ele mesmo ) que eles foram feitos um para o outro. Afinal de contas um contato dessa magnitude não acontece tão trivialmente. “ Por Deus, ela sorriu pra mim, ela só pode me amar. ” – pensava ele secretamente enquanto seu professor vociferava algo a respeito de isolar o x. ” Ótimo, além de tentar encontrá-lo contra a sua vontade ainda inventam de isolar o pobre coitado.” – dessa vez Eduardo guardou o pensamento para si mesmo e decidiu que faria algo a respeito de Mônica. Ainda não sabia exatamente o quê, porém seria algo da mesma importância de um olhar prolongado e um sorriso. Talvez a pedisse em casamento, caso o momento fosse propício.

O sinal toca e Eduardo sai em direção à sala de Mônica, determinado a sair dali um homem completamente diferente. Com seus 12 anos de idade, espinhas no rosto e cabelo desarrumado, juntou toda a experiência que tinha a respeito de garotas ( que naquele momento tendia a zero ) e adentrou a sala onde Mônica se encontrava, sentada, arrumando seus livros. Eduardo parou na porta por um momento e passou a observá-la. Estava linda. A maneira que arrumava seu cabelo, o jeito que corrigia a posição de seus óculos, tudo agora parecia diferente. Para Eduardo, ela não era mais aquela Mônica, a ruiva de óculos estranhos. Era a sua Mônica, a garota mais bonita do colégio, quiçá do mundo. Rapidamente toda a coragem de Eduardo desaparecera, transformando-se num misto de medo com pavor. O que falaria? Como explicaria o que estava sentindo por ela? E se aquele olhar fora simplesmente acidental e o sorriso, na verdade, uma risada? Ele estava saindo da diretoria, qualquer um com o mínimo de bom senso sabia que Eduardo havia se metido numa encrenca das boas para estar ali.

Porém ele não teve tempo de decidir se sairia correndo ou não, já que Mônica lhe dirigiu um daqueles cumprimentos tímidos, apenas um oi. Eduardo a encarou por alguns segundos e tentou responder. Falhou na primeira tentativa, devido ao nervosismo exagerado. Com muito esforço conseguiu formular um oi junto com um sorriso atrapalhado. Diversos pensamentos passavam na cabeça de Eduardo, coisas como a ideia de declarar seu amor por ela ou de sair correndo com a desculpa de que sua casa estava pegando fogo. Entrou, sentou-se na carteira na frente de Mônica e passou a observá-la terminar de guardar suas coisas. Não conseguiu oferecer ajuda, com medo de que ela fosse aceitar. Sentado ali, tão próximo dela, seu coração acelerou estupidamente o ritmo de batimento. Eduardo sentia as famosas borboletas em seu estômago que, naquele momento, mais pareciam águias descontroladas. Procurava por um assunto para iniciar uma conversa casual, porém sua mente estava ocupada demais registrando cada movimento de Mônica. Queria abraçá-la bem forte, enquanto sussurrava em seu ouvido que recebera a mensagem, e também a amava.

Enquanto Eduardo sonhava acordado, a garota se levantou e, numa frase rápida, se despediu. Caminhou até a porta da sala e saiu, sem olhar para trás. ” Como assim? ” – pensava o menino. ” Ela simplesmente foi embora? ” – ele não conseguia acreditar que depois de tudo o acontecera ela conseguia ignorá-lo dessa forma. Esperava que ela o convidasse para tomar um sorvete, ou mesmo acompanhá-la até sua casa. Eles conversariam e Eduardo teria a chance de dizer o que sentia. Não entendia o que fizera de errado, e muito menos o por quê de tal indiferença por parte da garota. Sentia que ela estaria mentindo se dissesse que tudo o que passaram juntos não significara nada para ela. Estava devastado, amaldiçoando o dia em que seus olhares se cruzaram.

Porém decidiu não se importar. Acabara de ter seu coração partido, mas não iria sofrer calado. ” Já que ela não se importa comigo … ” – concluía o jovem rapaz, agora disposto a encontrar o amor nos braços de outra garota. E mostraria para ela que ele não precisava dela. Nem de seus olhares prolongados ou de seus sorrisos idiotas. Apreciava o tempo que passaram juntos, porém, se é isso que ela quer. Eduardo seguiria em frente, temporariamente abalado pelo golpe que a vida lhe dera, tentaria ao máximo esquecer da garota que o fez se apaixonar tão facilmente. Antes de sair da sala, decidiu deixar uma mensagem para sua última paixão. Escreveu ” Mônica, também gosto de você ” na carteira da garota e saiu, deixando para trás apenas as lembranças de seu primeiro grande amor.

Willian Sousa
Enviado por Willian Sousa em 10/12/2011
Código do texto: T3382213
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