Consciência ou inconsciência?
Cenário: Caixa de um supermercado.
Participantes: Operadora do caixa, freguesa e freguês.
Freguês entra na fila do caixa de supermercado para passar suas compras.
Freguesa está iniciando a passagem de suas compras.
Operadora do caixa indaga:
--- Senhora, quer CPF na nota?
Freguesa diz:
--- Sim!
Operadora digita o CPF da freguesa e novamente indaga:
--- Deseja Nota Fiscal Paulista?
Freguesa com ‘pompa e empolgação’ responde:
--- Claro que não! Essa foi uma forma que o governo inventou para
fiscalizar nossos gastos...
Freguês, atento a tudo o que se passou, não se contém e, dirigindo-se à Operadora do caixa, argumenta:
--- Incrível como nós nos assustamos com estes pretensos controles
do governo em nossas vidas. Caramba! Se tenho receio que
controlem quanto gastei ou deixo de gastar, é sinal que estou
cometendo falcatruas e que estou querendo as esconder...
Olhar ‘fulminante’, a freguesa dirigiu-se ao freguês (até de maneira cortês, pois poderia pura e simplesmente esbravejar e questionar o que ele tinha com isso...):
--- Acontece que sou ‘roubada’ no imposto de renda, com as
corrupções existentes... também me sinto no direito de sonegar
quando posso..
O freguês respirou fundo e antevendo que ‘arrumou prá sua cabeça’ com o seu inconseqüente comentário, argüiu:
--- Bem... Na medida do possível eu procuro ‘andar na linha’ nos meus
procedimentos. Sempre peço a NF Paulista e tenho observado
alguma vantagem em fazer isso. Há muito pago ICMS embutido no
preço de tudo o que compro e que pago em serviços. O percentual
cobrado vai para o governo e, quase sempre, não reverte em
benefícios para nós! Daí, o governo de SP houve por bem matar
dois coelhos com uma só cajadada... ‘devolveria’ pequena parte do
que é cobrado a título de ICMS ao consumidor e, por outro lado, o
faria aliado na fiscalização daqueles que, por seu turno, sonegam
os cofres do governo, não emitindo Notas Fiscais e, portanto, não
recolhendo para os cofres públicos. Pensei: NUNCA tive devolução
de nada que comprei ou utilizei serviços, não custa nada obter
esta ‘pequena vantagem’ agora. Como, até prova em contrário, sou
um cidadão honesto, vivo exclusivamente do que ganho, sem
subterfúgios de caixa 2, ‘dinheiro na cueca’, super faturamento,
etc. e tal, não tem como me enquadrarem por sonegação...
Aí, a freguesa foi à loucura:
--- Eu também sou honesta, mas cansei de ser esbulhada e fiscalizada
por essa corja...
O freguês, discretamente ‘apoiado’ pelo cúmplice olhar da ‘impessoal’ operadora de caixa, prosseguiu em sua argumentação:
--- De uns tempos a essa parte, tenho sido comedido ao apontar o
dedo em direção aos outros, sejam cidadãos como eu ou pessoas
do governo, rotulando-os como desonestos, ladrões, corruptos...
Antes de fazê-lo, analiso meus próprios procedimentos e verifico
que também não sou nenhum santo que não cometi e ainda
cometo meus deslizes em matéria de ‘querer levar vantagem em
tudo’, certo?
A freguesa, indignadíssima, efetuou o pagamento de suas compras e saiu empurrando o seu carrinho em direção à saída.
Ainda encontrava-se pelas proximidades quando a operadora de caixa, após solicitar o número do CPF do freguês, indagou-lhe?
--- Senhor, deseja a Nota Fiscal Paulista?
Olhando, de soslaio, para a freguesa que se afastava com ‘passo duro’ do local, o freguês ameaçou um sorriso e soltou:
--- Obviamente... Gosto de levar vantagem em tudo, certo?