“A Bela História de Pio e Tetê”.

Na cidade de Índio Arqueiro, não acontecia nada.
A única distração, se é que pode se chamar de distração, a passagem do trem.
Raramente descia um passageiro, era um local de gente muito humilde (pobre).
Naquele dia, desceu um rapaz, de trinta ou trinta e cinco anos, não mais nem menos.
Trajava-se elegantemente, parecia gente de posse.
Na estação, cutucou com sua bengala, um velho que dormitava sobre um banco de madeira.
-Onde tem um motel, hotel ou pensão?
O velho, olhou-o com cara de poucos amigos, e falou.
- Do outro lado da rua, e voltou a cochilar.
Aquilo era uma pocilga, pensou Antonio Pio, mas vamos à luta.
Atravessou a rua, e viu uma senhora de quarenta anos, bem maltratada.
Se desse um banho de loja, com um corte de cabelos e uma boa maquiagem, enfim uma garibada geral, dava para jogar na grama, traçar, namorar.
Mas o velho Pio não era fraco, não senhor.
-Mocinha, a dona da casa, ou gerente se encontra?
- Sou eu.
- Você é jovem demais para ser a dona chame ela tá?
- O senhor não me entendeu sou a dona!
- Desculpe, não queria ofendê-la, é que lá na capital, geralmente dona ou gerente é pessoa de pelo menos trinta anos.
- Você que idade tem?
- Qua... Porque quer saber?
- Não briga, eu volto quando ela estiver, é sua mãe, certo?
- Mas você é muito bonita, nossa! Uma aliança, você é casada?
- E muito bem casada, sou uma senhora de respeito.
- Desculpe senhora, sua beleza me confundiu.
- Meu nome é Antonio Pio, sou advogado, estou de férias, por favor, esqueça tudo que falei, mas que é linda é.
Sei que vai contar para seu marido e provavelmente ele vai me matar ou mandar prender, mas vou continuar dizendo que, se não fosse casada, eu lhe traria um buquê de rosas, com onze rosas, para ficar uma dúzia certo?
-Vai faltar uma.
-Não, não vai.
Seu nome senhora?
-Tetê quero dizer, Maria Tereza.
-Os dois são lindos, mas prefiro chamá-la de D. Maria Tereza, e se um dia permitir, vou chamá-la de Maria Tereza.
E em meus devaneios, chama-la-ei Maria, para mim o nome mais lindo do mundo, minha mãe também se chamava, Maria.
-Que aconteceu, por que, chamava?
-Ela foi para a Europa, em um cruzeiro, o navio naufragou, não sei se morreu, simplesmente desapareceu.
O nariz de Maria Tereza avermelhou, ela se emocionou.
Pio, adorou, (está no papo).
-Você desculpe, a senhora, poderia ver se tem uma vaga, para mim?
-Sim, mas só tenho quarto de casal, normalmente não alugamos para solteiros.
Meu marido entende?
-Ele tem razão, vou embora.
-Espere, vou falar com ele, deixe suas malas, vá à praça, ele saiu, mas volta logo.
Saiu para a praça, após pagar meia dúzia de cervejas, sabia até a cor das calcinhas que Maria Tereza, (Tetê) usava.
Maria Tereza.
Estudante ainda conheceu Ricardo, quarentão, com alguma posse, foi dado de presente a ele por seu pai, um medíocre sitiante.
No dia em o conheceu, embora não fosse bonita, tinha juventude e seu corpo era realmente de uma musa.
Nas mãos de Ricardo ficaram todas suas esperanças de ser feliz, pois além de velho, era bêbado e pouco viril.
Com os anos foi largando, a celulite foi chegando por causa do desleixo.
Foi ficando velha precocemente.
Ricardo herdou dos pais, a pensão, um mercadinho, e um moinho de beneficiar arroz, que realmente era o único que dava lucro.
O resto era paliativo, agora vemos Tetê, digo Maria Tereza, à frente do espelho, que com toda bondade do mundo, não consegue ver, a beleza que aquele mocinho da cidade grande, viu nela, mas gostou.
Assim que o marido chegou, falou do possível, hospede, mas deixou bem claro, que ele decidia se aceitava ou não.
Ricardo falou.
-Tanto faz, o dinheiro que entra pode ajudar a pagar os empregados.
Às cinco horas, da tarde, entrou na pensão com um pacote na mão.
Maria Tereza estava produzida para uma festa, Pio olhou e feliz pensou, é minha.
- D. Maria Tereza, independente de me aceitar ou não, queria que aceitasse, estas rosas.
Ela quase teve um desmaio.
-Não faça isto.
Ele pegou sua mão, que cheirava água de colônia, e beijou.
Nisso por trás dela, uma vós meio rouca falou.
- Tetê o hospede chegou?
- Sim Ricardo chegou.
-De quem são estas rosas?
-Ele trouxe para mim.
-Pio deu um pulo, pegou uma rosa e colocou o caule na boca.
Ricardo deu uma risadinha e falou.
- Quero falar com você Tetê.
-O cara, deixa ficar, mas fica esperta, deve ser viado, não deixa entrar nenhum colega no quarto dele, falou?
-Falou, Ricardo.
Ricardo era viciado em baralho, saia de casa por volta de dezoito, só voltando às seis da manhã.
Ela voltou ao cliente.
-Vou mostrar seu quarto, mas meu marido desconfiou de você.
-Eu fiz de propósito, vi que ele era um homem da noite, e não queria que ficasse preocupado.
Assim que abriu a porta do quarto, foi agarrada e jogada na cama.
Pio, era mestre na arte e só se ouvia.
-Não, por favor, eu sou uma mulher honesta, aí para, não vai, não para, isto, e foi à noite toda.
Pio mereceu o apelido, que tinha de “Garanhão”.
Maria Tereza, Tetê, pela primeira vez na vida foi feliz, e dormiu por volta de cinco e meia da manhã, ou melhor, desmaiaram nos braços um do outro.
Quando foram tomar banho, já era quase sete.
Ela falava.
-Amor, por favor, me deixa ir para meu quarto, daqui a pouco o Ricardo chega e sai morte.
-E se você vai, eu morro, e se agarravam, ela já pensava no falatório.
Morreu, nos braços do amante, era até romântico e tomaram banho e café juntos.
Pio, para Maria Tereza,
- Quero vê-la de novo de hora em hora.
-Eu vou morrer, não estou acostumada com estas coisas, mas bateu o ponto religiosamente, mostrou que Tetê era pontual.
Só a tarde que Ricardo, veio a perguntar.
- E o rapaz?
-Não vi até agora, passei a noite acordada, vigiando, parece que ficou escrevendo, acho que é louco, não bicha.
-Já pagou?
-Adiantado uma semana.
-Quando for vencer cobre, só fica se pagar adiantado.
-Ta bom, Ricardo e ganhou no jogo?
-Que nada, o safado do Oliveira, roubou de novo.
-Mas hoje eu recupero, você tá acabada, Tetê, perdeu umas horinhas de sono e tá assim, ah se você passasse o que eu passei, ela pensou.
- Se você passasse o que eu passei Ricardo, até coisas que jurei que mulher honesta não faz, eu fiz.
-To toda arrebentada, mas fiz e foi ah! se foi, e hoje tem outra vez.
E teve, Antonio Pio, parecia mágico, sempre tinha uma surpresa, dentro da manga, e Tetê falava.
Ah! Isto não, sou uma mulher honesta, mas ta bom vem cá.
Parecia uma garotinha de dezessete anos com o namorado no motel.
Quando não agüentavam mais, ele recitou poemas, declarou seu amor, beijou seus pés, seus olhos, seus cabelos, e começou tudo de novo.
Até que Tetê falou.
-Chega, para, para.
Isto é coisa do diabo, você parece o diabo, é bonito que nem o diabo, e me fez feliz como o diabo.
Uma semana correu.
Pio, não fez nenhum contato, dos quais precisava.
Não pegou a assinatura de Tetê que precisava para roubá-la.
Foi agarrado, o malandro dançou, e agora cheio de dívidas, precisava contar, mas como?
Ela não entenderia.
Saiu com um plano de emergência.
Abriu o cofre dela e pegou algum dinheiro, o suficiente para aplicar seu último golpe.
Foi à praça, entrou em um escritório e após uma hora saiu, voltou à pensão.
Falou para Tetê.
-Tenho que viajar urgente, volto em dois dias.
-É coisa grave?, precisa de dinheiro?
-Não, pegou a mala e falou este envelope quero que me devolva quando voltar.
Se algo me acontecer ou eu não voltar, abra o envelope.
De madrugada, Ricardo saiu da casa da amante, agora ia até a casa do amigo, jogaria algumas partidas de pôquer, depois iria para casa.
Como a vida era boa.
-Olá meu rapaz, tudo bem?
Ricardo reconheceu Pio.
-Eu não sou chegado em viado, vá para casa senão eu te despejo da pensão.
Sentiu, o frio aço no pescoço, Pio, era muito bom no que fazia, tinha duas especialidades.
Em uma delas era melhor, era matador profissional.
Com duas bocas, uma na cara, outra na garganta, Ricardo se despede, desta vida de traição.
Noutro dia, reboliço, na cidade, o amigo de todos Ricardo, assaltado em plena rua.
Suspeito, seu colega de carteado, também aquela família que ele mantinha e não queria assumir.
A notícia maior, um anônimo havia feito um enorme seguro e encomendado a própria morte.
O remorso por ter duas famílias, foi demais para ele, encomendou a morte.
Foi encontrado no cofre de Ricardo, em sua pensão, um seguro de vida junto aos papéis de todos seus negócios, que pensavam que ele nem tivesse.
Após o terceiro dia Tetê, com as coisas mais calmas Tetê, lembrou do envelope.
A casa estava cheia de tios, sobrinhos, primos, comadres, todos querendo tirar proveito da situação.
Ela reuniu todos no salão.
Agradeceu o comparecimento, ajuda e pediu a todos que a deixassem só.
Todos reclamaram, mas ela foi irredutível, logo ficou sozinha com os empregados.
Quando abriu o envelope, era uma carta de Antonio Pio.
Maria Tereza, para você, me entender, não me perdoar, só me entender.
Meu nome é fictício, sou um aventureiro, parei em sua cidade, para realmente descansar.
Tentei aplicar em você o velho golpe do baú.
Porém, pela sua ingenuidade, simplicidade, sei lá.
Descobri em você, qualidades que pensei não mais existirem.
O que começou, como um golpe, se reverteu e o golpeado fui eu.
Seu marido não vale nada, descobri isto em alguns minutos de conversa de botequim.
Se fizesse o que havia planejado, você seria golpeada duas vezes, eu que nunca tive consciência, fiquei com dó.
Nosso caso foi paixão, mas de minha parte, após a primeira noite, foi amor e a cada dia mais me arrependia pelo que ia fazê-la sofrer.
Cheguei à conclusão, que pela primeira vez na vida, agiria de modo diferente.
Vou fazer um serviçinho para você e grátis.
Seu marido não tem documentos, ou estão todos enrolados.
Quando acontecer o golpe, você estará na miséria.
Vou reverter o caso, senão rica, você ficará, com situação estável.
Poderá finalmente encontrar seu grande amor.
Quando acabou de ler ela tremia, tudo começou com um golpe, um crime, depois, ele me amou tanto quanto eu o amei.
Seis meses, se passaram e Tetê, recebeu uma pequena fortuna.
Vendeu tudo que tinha, pois era a única herdeira e sumiu do mapa.
Largo do Arouche,
Noite de quinta para sexta feira.
A miscigenação, prolifera, bicha, prost., ladrão, pivete, tudo de ruim, está presente.
Em uma mesa, um rapaz bebe sozinho, talvez a companheira tenha ido ao toalete, talvez chegue mais tarde, talvez esteja sozinho.
O garçom se aproxima, e fala Pio, ei Pio, a madame mandou esta cerveja.
Totalmente diferente, Tetê, parecia, ter trinta, bem ...trinta e dois anos, ao invés dos quarenta e cinco.
Enxuta, parecia boneca de academia, nem um pingo de gordura, ruga... nada, , olheira...nada, parecia artista mesmo.
Pio demorou, a reconhecer, levantou tão depressa que derrubou a mesa, foi coisa de Hollywood, pena que ninguém filmou, correu, ela já estava de pé.
Aquele beijo que todos gostaríamos de dar, de língua, chupado, lambido.
Todos gritaram Oléeee.
As bichas morriam de inveja, mocinhas molharam a calçola.
Caminharam por vários quarteirões agarrados que até se atrapalhavam para andar.
Quando finalmente, a tempestade acabou, era sete e meia da manhã.
Pio falou, vou perder o emprego, entro as oito.
Brinca não, você não é destas coisas.
Agora sou parei com tudo.
Arrumei documentação nova, sou registrado, ganho salário, mas vai melhorar.
Sabe depois, da sua carta, perdi muito em minha vida.
O que eu queria, o que pretendia, falei vou embora, moro aqui pertinho.
Tenho um pequeno restaurante, e preciso de funcionário, se você quer trabalhar?
Vai começar tudo de novo e eu não quero prejudicá-la.
Então meu filho, vai ficar sem pai?...Como Tetê você está grávida?
E pode ter certeza que o Ricardo não é.
Você sabe o sexo?
É homem, é mulher?
Será homem, e vai se chamar Antonio.
Meu nome não é Antonio,... mas o nome do pai dele sim.
Aí começa a discussão que a gente sabe que a vitória é sempre feminina.
Depois disso, embora com certo risco, tiveram mais dois, na verdade, mais uma gravidez, só que de gêmeos, duas garotas tão bonitas como artista de cinema.
Na Aclimação, em uma bela casa moram os donos do restaurante Tal.
O marido é advogado, formado recentemente, porém formado.
Esta história é real, os nomes são fictícios, quem me contou foi um amigo de um amigo meu...

“Para todo quadro, existe esperança, de recuperação.
Já vi casos de prostitutas que se tornaram ótimas donas de casa.
E ótimas donas de casa, que na esquinada vida se arremessam por qualquer motivo, a procura do bendito dinheiro”.

                                       OripêMachado.




Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 09/12/2011
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