“A Arma”
 
          Seu Diocleciano, desde que chegou do Paraná, onde trabalhava na roça nunca deu sorte.
Veio para a capital paulista, com a promessa de emprego por uma empresa de recrutamento que fizera uma visita à sua cidade Andirá.
Mediante pequena quantia arrecadada a título de despesas e taxas, prometia ótimos empregos a todos na capital São Paulo.
Com o dinheiro da venda de uma máquina de costura de sua esposa e com a promessa de comprar uma nova pagou as taxas para toda família.
Com o novo emprego acertado, vendeu o resto das coisas de casa e dirigiu-se ao endereço da empresa onde iria trabalhar.
Sua chegada à capital foi uma aventura cheia de surpresas e esperança.
Esperança de arrumar sua vida e de sua família que eram sua esposa, um filho de dezessete anos e uma filha de quatorze.
Surpreza!!!
A firma não existia,  a família sem dinheiro e sem trabalho, morou uns tempos em baixo de pontes.
Com muito custo conseguiu um pequeno quarto na periferia, onde começou a viver a custa de biscates.
A esposa e a filha que executavam trabalhos de limpeza doméstica em algumas casas, complementando a despesa da família.
O filho se alistou e foi servir o exército.
A filha estudava a noite e ajudava a mãe de dia.
Todos na casa passavam apertados, mas tinham a esperança, de em breve reverter à situação.
Seu Diocleciano arrumou um serviço também de faxina, em um prédio no centro da cidade, e para lá se deslocava toda noite.
Já fazia dois anos que haviam chegado do interior e nada da situação mudar.
O filho continuava no exército, a mãe e a filha continuavam na faxina e Seu Diocleciano também.
Mas parece que a sorte iria mudar, só que para pior.
De repente sua filha engravidou de um namoradinho que não quis assumir a paternidade.
Este foi mais um duro golpe para a família.
Naquele dia Seu Diocleciano foi para o trabalho levando apenas uma sacolinha com sua marmita, pois o emprego não dava refeição.
Ao passar por uma praça ouviu tiros.
Encostou-se à parede e viu um vulto passar correndo por ele.
Como as coisas se acalmaram, voltou a caminhar.
Ao passar por uma praça, viu alguém pedindo socorro.
Solícito foi ajudar.
Havia um homem caído ao solo, tendo ao lado um revolver.
Fora provavelmente vítima de assalto.
Em um movimento automático pegou a arma.
Era um lindo revolver.
Colocou a arma no bolso e tentou levantar a vítima.
Além de não conseguir, se sujou todo de sangue.
Vendo ser impossível, largou-a e foi para uma esquina movimentada pedir socorro.
Passou uma viatura policial, que parou e vendo-o todo sujo de sangue, quis ver seus documentos.
        Encontro da arma, vítima, sangue.
Aí as coisas aconteceram céleres, delegacia, flagrante, cadeia.
No mesmo dia saiu estampado nos jornais.
Preso ladrão que matou comparsa.
Seu Diocleciano saiu para trabalhar e não voltou mais.
Foi para a cadeia, pois a vítima faleceu antes de esclarecer a autoria do delito.
Passaram-se nove anos.
Sua filha se casou com outro rapaz, que assumiu seu filhinho.
Seu filho se tornou sargento do exercito.
E por graça divina, na cadeia um preso contou para o colega que havia matado no centro em uma praça um parceiro seu.
Entre os presos também existe moral, e este presidiário foi obrigado a contar para a chefia da cadeia.
Embora com muita burocracia, foi esclarecida a situação e Seu Diocleciano retornou ao convívio da família.
Graças a entidades assistenciais, houveram ações contra o estado e Seu Diocleciano conseguiu receber uma razoável quantia.
Lógico nunca pagaria seu prejuízo, mas deu para retornar para o Paraná e retomar sua vida com seqüelas, mas teve até seu sitinho para nele acabar seus dias.
Converteu-se ao cristianismo e morreu fazendo palestras e dando bons exemplos de cidadania ao público em geral.
OripêMachado.
Oripê Machado
Enviado por Oripê Machado em 09/12/2011
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