PROFESSOR: UM SACO DE ESPERANÇA
. PROFESSOR: UM SACO DE ESPERANÇA
A capacidade de esperar com otimismo é uma das grandes virtudes humanas. Ao contrário, quem não mantém a calma ao esperar ou quem espera esbanjando pessimismo, pode estar gerando um grande malefício para si mesmo. Contudo, em se tratando do profissional professor a esperança o acompanha sempre. Em primeiro lugar espera cerca de 12 (doze) anos sentado em cadeiras duras de madeira estudando para ensinar outros que sentarão naquelas mesmas cadeiras. Em seguida, tem que esperar a boa vontade dos governos de realizar um concurso público e depois de concursado tem que agüentar a ansiedade para ganhar um aumento salarial geralmente racionado em micros percentuais. Enquanto isso tem que manter a calma diante dos aumentos faraônicos dos deputados, dos desembargadores e ministros do Supremo Tribunal Federal. Claro! É preciso manter a calma para não infartar porque a velocidade do aumento dos salários destes é anos-luzes na frente do salários de quem os ensinou nos velhos bancos de escola. No dia-a-dia são necessárias toneladas de paciência para esperar a boa vontade dos seus alunos para escutar suas explicações, desligarem os celulares, abrirem os livros e diminuírem os gritos. Espera principalmente que nem um dos seus alunos resolva um dia agredi-lo com um soco ou mesmo com uma arma. Fora da sala de aula tem que suportar os entusiasmados discursos pedagógicos e governamentais de que tudo depende do professor, basta que ele inove seus métodos e construa técnicas para conquistar seus alunos, ou melhor, seus educandos. E aí diariamente o professor segue sendo um verdadeiro esperançoso. Espera uma faculdade para se especializar; espera não sei quantos anos para que tal especialização seja incorporada ao sua carreira salarial; esperou toda a vida pela aprovação da lei do piso salarial nacional; espera a boa vontade dos governos de executarem tal lei; espera ansiosamente o toque da campainha para mudar de sala após 50 (cinqüenta) minutos de aula. Espera o toque final da campainha para trabalhar no turno seguinte e aguardar um salário pelo menos capaz de manter sua família; espera um horário vago para respirar; espera o carnaval para ter a terça e a quarta-feira de folga e colocar seus diários em dia; espera o feriado do dia do padroeiro para rezar e aumentar a fé no sistema educacional; espera a Semana Santa para pensar na vida, enquanto prepara seus planos de aula; espera que o dia do trabalhador não caia no final da semana; espera julho para o recesso de 10 (dias). No segundo semestre espera os feriados de 12 (doze) de outubro, finados e proclamação da república; no fim de novembro espera o fim das aulas para diminuir o estresse. No ano seguinte começa tudo de novo, sabendo que tem de esperar 35 anos para se aposentar. Ao dizer isso não sou um pessimista, mas um realista sonhador. E falo baseado principalmente na realidade do professor maranhense. Entretanto, continuo esperando que o professor seja reconhecido como mestre e, sobretudo, como gente com direito a condições dignas de trabalho e salários decentes.