Saudades do Minho...de mim...

Havia um resquício de vida noturna no seio daquela manhã. A sombra não despertara totalmente nas copas das arvores, se bem que já flutuasse sua claridade rósea nas poças deixadas pela chuva da noite. Felizes os periquitos atordoavam o silêncio, com seus cantos agudos e o frêmito de suas asas. A pouca vegetação orvalhada da cidade, o cume dos prédios, as ruas, as casas, as pessoas, tudo amanhecia. O dia a cada instante se fazia mais preciso, resvalando, espraiando-se em vida, calor e luz. Havia uma diferença entre o meu sol e o que desvirginava as sombras da cidade. Procuro através da bruma, num enredado de lembranças, algo mais que esta luz baça não ilumina, só cria sombras. Persigo nesta pouca luz, traços do que fui, nada ouço, nada sinto, nada vejo. Meu coração já não é leve, nem a pureza poética de outrora, renova a musica da manhã.Ja não leio mais as poesias que vinham do Minho.

Carrego uma culpa tão secreta e incomoda, que nem eu mesmo sei o que é...isolado como uma ilha, completo e fechado, interditado do convívio da cidade e das pessoas.

Em torno a noite ruía com suas miríades de estrelas apagando-se em...luz. Amanhece na cidade que nunca dorme, feliz e preguiçosa antes de inicar o dia estremunha num bocejo...eu anoiteço em mim.

Carlos Said

Primavera

Carlos Said
Enviado por Carlos Said em 08/12/2011
Reeditado em 09/01/2013
Código do texto: T3378571
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.