Destino, porque fazes assim?
De acordo com o bom e velho Dicionário... DESTINO: 1. personalização da fatalidade a que supostamente estão sujeitas todas as pessoas e todas as coisas do mundo; sorte, fado, fortuna 2. tudo que é determinado pela providência ou pelas leis naturais; seqüência de fatos supostamente fatais; fatalidade 3. acontecimento; fortuna, sorte, fado 4. o que há de vir, de acontecer; futuro 5. objetivo ou fim para o qual se reserva algo 6. resultado final 7. local aonde alguém vai; direção, destinação, meta.
Bom, acho que tá bem explicado o que é destino.
O destino é irônico muitas vezes. Aliás, muitas vezes não. Sempre. O destino é sempre irônico com todos nós, pobres mortais à mercê de alguém poderoso e mestre em ironias, chamado destino. Eu vinha saindo do consultório médico, com uma dor de cabeça borbulhante, conseqüência do cansaço e de horas sem comer. Entrei no ônibus em direção ao curso, muito contra a minha vontade, na disposição de encarar o trânsito infinito de uma terça-feira no centro do RJ.O dia até que não tinha sido ruim. Alguns detalhes anti-rotineiros aconteceram e tudo ficou um pouco menos chato. Mas por mais que o meu dia tivesse sido bom, depois das três da tarde, sempre haveria aquele tédio impaciente de tarde de terça-feira. Como ia dizendo, entrei no ônibus e me encaixei no primeiro banco, ao lado de uma outra menina, em diagonal com a roleta, em frente ao cobrador. Tão logo, comecei a ouvir uma música irritante - era um pagodinho infeliz. À medida que ansiava para aquele som se distanciar, ia percebendo que estranhamente a música continuava alta e estridente. Não era possível; será uma banda de pagode barato com churrasco de beira de esquina ambulante? Não. Um rádio dentro do meu ônibus. Do motorista. Aos berros. Adivinha?? FM O DIA - Odeioooo...Tentei me distrair para não me afundar naquele poço de mau humor que parecia me encarar e dizer: “venha”. O velho quase dormindo do outro lado do corredor distraiu, mas o “meu coração não güenta ver você com ele” foi mais alto na minha percepção. Percepção! Comecei então a me lembrar dos papos com minha irmã sobre psicologia, a seletividade da mente, “você ainda vai pagar pelo que fez / vai chegar a sua vez”. Belas rimas... Vamos então pensar em poesia! Isso! Como era aquela? Aquela que recebi por e-mail e falava de saudade? Essa não. Ah! Já sei! Aquela que fala dos sonhos que... que... Não dava. Me atirei então no tal poço do mau humor e à medida que eu ia me afundando, o cobrador parecia cantar ainda mais alto absolutamente todas as letras. Era o inferno sobre rodas, guiado pelo próprio diabo.Minha cabeça doía ao ritmo daquele chocalhozinho tchuc-tchuc, em cima-embaixo, latejando.Propaganda na programação radiofônica. Graças á Deus, pensei. O motorista parecia não gostar de anúncios, não queria acabar com aquele clima harmonioso e fantástico de cantoria plena. Mudou de estação.Num golpe esplêndido do destino, ele muda de estação e pára onde Cazuza cantava. Uffa... Cazuza me salva. Mas, sobre o quê ele cantava? Não, não era sobre o dia nascer feliz nem do tal beija-flor com segredos de liquidificador. Ele cantava para mim, quase que chamando o meu nome. Recitava-me aqueles versos no meio do silêncio aparente que o resto do mundo resolveu fazer. Eu senti que era para mim. Era o destino que tinha encontrado uma maneira de falar comigo e dizer “olha aqui, sua menina metida a espertinha, com esse mau humor insuportável, justificado no pagodinho do motorista: este não é o seu real problema. O seu problema mesmo, causador dessa sua irritação crônica, é que você quer a "sorte de um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida."
Cazuza, te dedico!