Um apelo à realidade
Já não mais vendo o dia em escuridão, caminha ela. Desloca-se de São Caetano, com destino à Baixa dos Sapateiros. Seu guia é a esperança. Em meio à álea – essa que, tantas vezes, lhe fora tortuosa -, o tempo, feito um clarão, do sol torna-se chuvoso; mas essa senhora o vence: é obstinada. Em uma locomoção deveras desconfortável, vê, por aquela janela torta, rostos – em seus carros – descontentes, ainda que sob um fulgor do conforto que ela – talvez – jamais irá encontrar. Seu fito, ao seu ver, é simples: consertar apenas uma letra de seu nome, grafada errada. Todavia, dias, muitos, dispensou ela em sua jornada, ouvindo sempre que aquilo era mais complicado que parecia. E pensava: Qual! Que complicação há onde se lê “z”, no lugar de um “s”? Não entendia. Não obstante, maior que esses desencontros da vida, era sua fé hialina na solução: haveria de encontrar um meio, e seria ali, onde acabara de chegar, na Casa de Justiça e Cidadania. A ditosa senhora dirigiu-se ao Ministério Público; logo ao lá chegar, foi direcionada a conversar com Dr. Adilson, que, incontinenti, a atendeu. Ser de elevado senso moral, viu, nos olhos daquela senhora, a caminhada árdua e longa, que a mesma palmilhara. E, em uma análise nem um pouco perfunctória, de sua documentação, comunicou: Senhora, iremos resolver teu problema. O outro ser, acolhido, desacostumado com o tratamento humano - que deveria ser obrigatório -, desatinou em choro, ao dizer: Senhor, tu não sabes como me ajuda. Meus pequenos, em casa, se privam do essencial, por eu não ter conseguido sacar a pensão que meu marido deixou. E o Dr. Adilson, com a essência que carrega em seu imo, pronunciou: É servindo que nós buscamos, cada vez mais, aquilo que, dentro de nós, sabemos que também somos: Um pouco dos outros.
Feito uma criança, saiu, a senhora, em busca dos seus pequeninos, com a boa nova para lhes contar.