Se escrevo
Eu quero escrever, mas olho para o papel e não vem nada na
mente, dá um branco e ao mesmo tempo vem um turbilhão de pala-
vras sem nexo e sem ordem nenhuma.
Não sei se escrevo, que no momento estou amando e por incrí-
vel que pareça é a primeira vez que sinto este amor pulsar dentro
de mim; Se escrevo que sinto saudades do meu filho, embora saiba
que ele está batalhando pelo seu futuro e neste momento tem que
ser longe de mim; Se escrevo sobre a minha avó, que já se foi, mas
ela faz muita falta aqui; Se escrevo que detesto preconceitos de
qualquer tipo; Se escrevo sobre o dia-a-dia, eterna rotina, a gente
sabe o que vai acontecer hoje, amanhã e depois; Se escrevo sobre
o meu time de futebol, que por acaso ficou quase no topo da tabela;
Se escrevo que, às vezes, sinto um vazio tão grande e quero a pes-
soa que amo sempre perto de mim; Se escrevo que fico feliz quan-
do estou do seu lado e quando está longe de mim, fico triste e na
solidão; Se escrevo sobre esse calor infernal, que faz aqui no sul e
o verão ainda nem chegou; Se escrevo sobre o natal que está che-
gando; Se escrevo sobre o ano novo, se foi bom ou ruim; Se vou
ter o que brindar nesta virada, afinal de contas, nos últimos anos
nem tinha vontade de brindar.
Fico assim, sem assunto, um parágrafo não dá o seguimento pa-
ra o outro, o ponto final vem logo e as vírgulas somem. Leio alguns
livros , notícias, assisto televisão, ouço músicas e olho para o pa-
pel e ele está do mesmo jeito, não dá vontade de escrever.