Minha janela



Estes dias de férias eu estava lendo os textos do Recanto e encontrei um que falava da janela com grades. Lembrei-me da minha, sem as grades e fiquei feliz. Considerei-me totalmente abençoada e resolvi, com a permissão do escritor porque me deu a inspiração e vontade de escrever algo sobre a minha querida janela. Perdoe-me o colega. Li muitos textos e não recordo o autor. Se você ler este texto e não gostou de ter me inspirado, não se acanhe, pode me escrever. Explicarei o que puder.

Sempre gostei da minha janela por ela estar inserida num prédio de apartamentos e não dar visão para nenhum andar ou casa que pudesse tirar minha liberdade ou constranger o outro lado.

Minha janela é meu mais caro presente. Paguei para tê-la durante mais de quinze anos. Finalmente!...É minha.

Por ela vejo a imensidão do céu pela manhã espalhando a sua luminosidade pelos matos,
(não tenho floresta nem bosque para admirar), mas é tão bonito quando abro a janela do quarto (quando durmo com a janela fechada, o que quase nunca acontece) e me deparo com o quero-quero pulando pelo pátio ou, voando em direção córrego. Também o beija-flor planando amoroso sobre as poucas flores do nosso jardim desejando-lhe um bom dia.

Da minha querida janela aprecio o desenvolver das horas afirmando ao mundo o quanto somos amados e abençoados. É por ela que vejo as crianças batendo bola, soltando pipas, correndo uns atrás dos outros em esconde-esconde; às vezes observo algum conflito entre as crianças que elas resolvem rapidamente. São poucas as crianças do meu pedaço. É conseqüência do controle de natalidade. Também vejo as vacas de algum sitiante pequeno que as deixa sair para pastar. Elas também fazem parte da minha visão pela janela. São amigas calmas, que não incomodam ninguém. Seguem seu curso uma após outra e, as fotografo em seus momentos de paz, de descanso. Gosto dessa observação direta dos costumes do bairro.

Da minha querida janela mais tarde, após todos os afazeres do dia, pego a minha câmara digital e fico a fotografar a paisagem bucólica da zona leste de São Paulo. Pobre paisagem sem grandes encantos, sem grandes árvores, sem muitos animais nem aves. Tudo é pouco.
Tudo é mirrado. Apesar de escasso, esses recursos naturais são verdes, verdes, com a poluição e, apesar da poluição. E as vaquinhas não se queixam do matinho verde emacio que elas ruminam sem parar.

Apenas o céu que nestes dias chuvoso se apresenta meio misterioso. Parece que esconde algum segredo. Guarda tesouros para mais tarde nos mostrar e encantar.

Após o jantar e novamente os afazeres correspondentes a ele, me ponho no sofá que está de frente para o poente, e de olhadelas na TV, vejo a noite, cheia glamour, se aproximar. Às vezes traz a lua como acompanhante o que a deixa mais encantadora.

Minha janela não tem grades. Não tem telas protetoras. Criei meus filhos assim, livres de grades.Precisaram aprender a respeitar o espaço da janela, respeitando o seu próprio espaço e limite.

Ela fica aberta para que a noite entre e compartilhe conosco a nossa tranqüilidade. A noite é nossa guardiã e entra, sempre. Se tivesse grades seria tão encantadora? Não sei...

Não fico, não de cotovelos na janela, olhando para fofocar! Observo a grande natureza com que Deus me presenteia e onde criei meus quatro filhos, agora adultos. Vejo e observo a brincadeira do meu neto que aproveita o quanto pode desses momentos rápidos de glória infantil. Enquanto ele pode brincar, amar, brigar, sorrir, pular... Que saudade me dá quando estou a olhar por essa abençoada janela!

Minha janela está aberta para o Mundo! Está aberta para Deus! Está aberta para mim mesma!