Uma Suposição Admissível

Eu te amei. Mesmo não podendo, não querendo, não aceitando. Nunca desejei ter você dentro de mim, nem muito menos ter a necessidade de você. Conscientemente, sabia que não queria precisar de você para me tirar sorrisos bobos, pensamentos bonitos ou me sentir completa. Odiei desde de que me abraçou pela primeira vez e senti meu coração palpitar forte. Repugnei-me logo que percebi o efeito dos seus olhos sobre mim. Detestei o fato de você ter pego "emprestado" uma parte de mim, - à propósito sem permissão -, e não ter devolvido.

Vivo procurando explicações na tentativa de entender de onde vinha tantas emoções, intensidade, loucura. Por que tinha que ser você? Caramba, justo você! Não podia e nem deveria ser. Ainda que tivesse meras qualidades, caí na banalidade esquecendo dos seus defeitos. Eu me sentia sujeita a tudo que dizia sobre você, era como uma escravidão sentimental, e ao mesmo tempo, uma viagem maluca pelo desconhecido. Atitudes que nunca me levaram a nada, não me preenchia, não me planejava, não cuidava de mim, somente me dava o vazio do nada. De vez em quando me tirava uns sorrisos ou deixava alguns momentos simples para ficar repetindo na minha mente, no entanto, o que sempre ficava mesmo era o silêncio. Mórbido silêncio.

Por incrível que pareça - meio contraditório até -, sinto falta desse amor doido. Na verdade, como sinto falta de algo que nunca existiu entre nós? Algo que nem consegui sentir o cheiro, apreciar o sabor ou sentir a textura. Estranho, não? Aqui entra um velho clichê: nunca existiu morte para o que nunca nasceu. Entretanto, não sei. Às vezes me bate essa saudade meio complexada de me congelar dentro dos seus olhos e sentir repulgnância por fazê-lo, ou então de sentir a palpitação exagerada dentro de mim depois de um abraço seu, e melhor ainda, saudades de odiar amar você. Sabe, eu não dominava o que sentia por você, eu não concordava, não almejava, e mesmo assim me deixava levar por aquelas ilusões que encobriam completamente a realidade. Não sei bem se te amava por minha causa, ou somente pelo desejo de ter alguém dentro do meu coração. Apesar dos pesares, esse amor que vivia dentro de mim era lindo, assim como você, lindo. É uma pena algumas coisas serem tão superficiais, velha mania de mascarar o esteriótipo das pessoas. Sorte que um dia a máscara cai e aí, meu caro, nós encontramos as repostas para as nossas perguntas.

"E às vezes me pego a buscar hipóteses e questionar o que poderia ter sido, no entanto, chego a conclusão que talvez não valha a pena entender."

Bela Afonso
Enviado por Bela Afonso em 05/12/2011
Código do texto: T3373615
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