FEBRE DE AMOR
A “Réveillon” de 2011 era para ser diferente. Escolhemos uma pousada bem no meio da fazenda na cidade histórica de São Luiz do Paraitinga. Um lugar maravilhoso: começando com o centro que fora grande parte destruída por uma enchente do Rio Paraitinga no inicio do ano de 2009 e agora está em reconstrução. Depois pela Pousada Recanto Fazendinha que nos deixou deslumbrado pelos detalhes da construção. Com materiais totalmente garimpado em demolições, o Rosano e a Maria Inês, construíram um recanto de amigos onde as portas do quarto, equipados com lareiras, ainda são fechadas com tramela e o forro feito com sacos de estopa com as inscrições de “CAFÉ DO BRASIL". Tivemos a sorte de estarmos entre os dezoito convidados para a grande Ceia de “ano novo”, feitas à luz de vela e todo requinte de um hotel de cinco estrelas. Um encanto que durou apenas três dias. Dos passeios programados, alem da visita ao centro histórico da cidade, estava em descer a serra e curtir um pouco do sol de Ubatuba. O litoral estava totalmente ocupado, nós sabíamos, mas a vontade de ver o mar era maior que qualquer outra coisa. Então arriscamos. A descida da serra foi normal, com alguns problemas no aquecimento dos freios, mas nada que visse a preocupar. Uma dica do anfitrião Rosano nos ajudou a evitar o transito na BR 101 até chegar à praia da Lagoinha. Um passeio maravilhoso até as três horas da tarde na Praia Dura, quando decidimos almoçar e retornar para a pousada. Passamos pelo congestionamento das Praias das Toninhas, Perequê e outras até a saída da BR em Ubatuba. Todos os quiosques lotados de pessoas alegres e barulhentos com muito trabalho para os policiais que se colocavam em todo o percurso ao longo da orla para evitar os excessos de alguns turistas mais abusados. Chegamos ao inicio da subida da Serra do mar e junto conosco também chegaram a cerração e a fina garoa. O movimento do transito era tranqüilo. Estávamos em dois carros, o meu filho vinha atrás conduzindo o c Chevette 1985, nossa preciosidade com tração traseira e cardam. A chuva apertou um pouco no meio da serra quando os perdemos de vista, mas não podíamos parar, pois as curvas de trezentos e sessenta graus na horizontal e setenta e cinco na vertical requeria uma velocidade constante e uniforme para o bem do carro e seus ocupantes. Tentamos falar ao celular para saber noticias, mas não havia sinal e começamos a ficar preocupados com a nossa cria. Muitas coisas passaram pela minha cabeça: - O Chevette não deve ter agüentado a subida e parou em uma curva provocando um acidente. - Ao fazer uma curva o carro deve ter rodopiado e caiu num precipício, eles podem ter se acidentado. - Ai meu Deus! - Não. - dizia minha esposa e grande companheira de todos os momentos, - Eles estão bem. Devem ter parado para esperar a chuva mais pesada passar. - Sim, dizia o meu coração, alguma coisa aconteceu, eu vou parar, eu não estou bem. Eu não sei por que, mas a minha emoção era tão forte que um calor intenso tomou conta do meu corpo e uma febre estranha feriu o meu controle provocando uma sonolência e muito frio. Paramos em lugar seguro depois de avançar o topo da serra. O celular não dava sinal, a chuva apertava, o Chevette não aparecia e a minha febre subia. Resolvemos pedir ajuda. Começamos a dar sinal aos motoristas que passavam até que um motociclista parou e nos deu uma informação importante: tem um Chevette cinza parado numa baia com duas pessoas, eles parecem bem, só não conseguiram subir. Foi um alivio mental e corporal. Uma aspirina para a minha febre. A tensão passou, o raciocínio voltou ao normal, percorremos mais alguns quilômetros até encontrar sinal no celular, ligamos para o D.E. R e conseguimos ajuda. Deu tudo certo e voltamos para a pousada em paz, após noventa minutos de atraso. Na pousada descobrimos que também ficaram preocupados, pois, na tentativa de um contato pelo celular, alguém ligou para um telefone esquecido no quarto dando conta do ocorrido e criou-se uma expectativa também entre os companheiros de pousada. Um fato do cotidiano, que muito embora possa ocorrer com qualquer pessoa, me fez descobrir que em nenhum momento temos controle sobre as nossas emoções. Uma pessoa querida em perigo pode transformar os nossos sentidos e causar efeitos colaterais prejudiciais à saúde. Eu descobri que o amor pode causar febre. Eu tive uma febre de amor pelo meu filho. Escrito por: Paulo Carvalho de Freitas 03/01/2011