Democracia tem

Alguém me alertou, recentemente, que o povo árabe luta pela democracia, enquanto os brasileiros já a tem.

Claro que temos uma bela democracia. Democrática em todos os sentidos. Democrática demais, se é que isso existe. Se a nossa democracia é o que todos sabemos e sentimos, imaginem os regimes ditatoriais.

Se aqui nada temos, o que teria esse povo?

Aliás, aqui temos tudo. Temos até demais. Temos os mais altos impostos do mundo, gasolina cara e as piores estradas do mundo, temos políticos corruptos, temos falta de segurança, temos impunidade, temos falta de escolas, temos falta de hospitais, temos filas nos PA s do SUS, temos falta de vagas nas UTIs e muito mais.

Se raciocinarmos assim, concluiremos que nós temos "TEMOS" demais. Se acreditarmos que na democracia, de um país em desenvolvimento, rico e bonito por natureza, tudo isso existe, como pode, o povo, que não tem o que a democracia brasileira nos proporciona, viver em uma ditadura? Ao admitirmos que a ditadura é o inverso da democracia, é claro.

Pensando assim, não dá para acreditar.

Recentemente, o jornalista Carlos Costa, denuncia, em uma de suas crônicas, os flagrantes da atuação de traficantes em plena atividade nas comunidades "pacificadas" do Rio de Janeiro.

Depois de toda aquela exibição de poder e força. De uma operação de guerra que a Televisão nos mostrou – e como fez questão de mostrar – dificilmente acreditaríamos que pudéssemos, um dia, sequer imaginar uma cena dessas.

Se a democracia (inventada há mais de 2.500 anos em Atenas, na Grécia) teve o objetivo de evitar a tirania, ou seja um individuo ou um grupo, decidindo a vida do povo. Seu princípio básico sempre foi o poder exercido em nome do povo e em seu benefício.

Mas que poder tem o povo?

Se o poder é emanado do povo todo ato do poder tem que ser a favor do povo. Ninguém pode ser injusto consigo mesmo. Mas o que vemos são políticos profissionais, que passam a vida toda em busca do poder que lhe favoreça e ao seu grupo. Se o modelo de democracia existente no mundo foi inspirado no da Grécia, devia permanecer fiel aos seus princípios. No início o povo se reunia em assembleias e decidia tudo pelo voto. Mais tarde evoluiu e criou-se a primeira forma de representação do povo – a Bulé – cujos membros teriam que ter a idade mínima de 30 anos e só podiam exercer a representação do povo por um ano e somente por duas vezes, durante toda a sua existência.

Tinha lá seus defeitos, ninguém é perfeito. As mulheres, escravos e vencidos de guerra não podiam votar. Mas aqui também elas não tinham, pelo menos até 1.932 quando conquistaram esse direito. Mesmo assim ele era restrito.

O povo que já sofre uma ação antidemocrática (o voto obrigatório) pode, pelo menos, manifestar seu descontentamento, já que lhe é permitido votar em branco. Assim fazendo estará eliminando os políticos de carreira que aprendem durante os muitos anos de militância política as mais sofisticadas mazelas, elegendo para seus legítimos representantes pessoas sérias, comprovadamente, honestas e capazes.

O voto de protesto, como temos visto nas últimas eleições, só serve para dar maior irresponsabilidade ao ato constitucional e democrático do voto.

Podemos escolher. Temos a obrigação de selecionar o melhor. Não fazemos isso em nossas empresas? Qual candidato terá uma proposta adequada para a saúde e competência para gerir esta proposta? Qual deles tem a melhor proposta para a educação e a competência para aplicá-la? E assim em todos os setores.

Votaremos com responsabilidade e teremos moral para cobrar pois nós estamos com a palavra, com o poder e o direito de exercê-lo.

Jornalista Neodo Ambrosio de Castro

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