Ouça-me!
Ande. Mas ande depressa, pois nessa manhã a chuva fria não lhe dará paz. Ignore a água nos pés, ignore as pessoas, ignore seu cabelo encharcado. Apenas ande logo, algo lhe espera, algo além de uma mera rotina. Aumente o passo, mas mantenha-se firme, continue andando. Ao chegar, entre! Não se despeça da chuva, ela desconhece cordialidade.
Seque-se. A febre não lhe dará trégua, portanto, esquente-se. Alguém irá lhe oferecer um agasalho, aceite. Agradeça, mas não o olhe nos olhos, vocês ainda não estão preparados. Quando lhe perguntar, não se acanhe, diga seu nome. Tentando alcançar seus olhos, ele perguntará se está bem; não responda ainda!
Pronto, agora pode olhá-lo. Retribua o sorriso e diga como se sente.
Tente não olhá-lo muito nos olhos, vai ser difícil, mas pelo menos tente. O dia vai parecer brilhar, mas não se engane, lembre-se da chuva. Em alguns minutos ele irá se despedir com o sorriso apagado, devolva-lhe o agasalho, agradeça novamente. Não se esqueça de se despedir, e guarde muito bem para si o brilho que viu naqueles olhos.
Muito fácil até aí, não? Agora tente esquecê-lo.
Boa sorte!