O OLHAR DE QUE PRECISAMOS
Assistindo, domingo passado, à celebração da Santa Eucaristia, na hora da homilia, o padre disse uma frase que me fez pensar: “antes de apontarmos para os ciscos dos olhos dos nossos vizinhos, olhemos primeiro para as nossas travas”.
Confesso que essa frase me surpreendeu. E me fez trazê-la para a minha realidade. E, mais precisamente, para a profissão em que eu atuo. Digamos que a riqueza dessas palavras só poderia ter sido pronunciada num momento de fé, de comunhão com o Espírito Santo de Deus.
Explico: tanto essa semana que passou bem como esta semana em que estamos foram - e estão sendo - duas semanas de estudos voltados para o olhar que nós temos para com os nossos discípulos. Nesse olhar, nós comprovamos aquilo que o programa - para o qual trabalhamos no momento - exige que seja contemplado. Assim, diante das dificuldades de se alcançar determinados objetivos, nós apenas consideramos o nosso olhar intransigente - aquele que pune - e que não nos deixa ver as subjetividades existentes por trás de cada professor cursista que se esforça para ultrapassar limites e consegue – mesmo que lentamente –, galgar mais um degrau na caminhada para a sua formação.
Por isso, eu socializei, em meio às discussões, primeiro, a frase do padre. Depois eu pedi que a trouxesse para o nosso dia a dia, e ouvi, por parte dos colegas formadores, suas opiniões a respeito do assunto.
“O olhar pedagógico deve ser aquele em que contemplamos um universo maior de possibilidades, dentro da prática do ensinar, e que nos permite ver, nos detalhes, cada progresso por trás de uma visível dificuldade metodológica”, disse-me a psicopedagoga Socorro Gurgel.
Sim, confirmei. É verdade o que ela, sabiamente, falou. Quando direcionamos o nosso olhar para enxergarmos, também, além das exigências - e dos pré-requisitos que cada formação nos impõe -, nós passamos a ver novos horizontes de possibilidades e, aí sim, podemos direcionar nossos esforços para, de fato, combatermos as deficiências que cada professor, individualmente, carrega consigo.
Em seguida, a professora nos mostrou um papel ofício em branco e perguntou o que nós víamos. Um por um, cada professor daquela sala, foi dizendo o que apenas o seu olhar prático – e punidor – observava. Um disse que era apenas uma folha em branco; outro, que era uma folha em branco com um ponto preto no meio dela. E assim, a cada resposta de todos, nós apenas ratificávamos o que o professor anterior havia dito. Mais uma vez, a professora nos fez ver a folha em branco com o ponto preto no meio. E nos perguntou, para instigar a nossa criatividade: mas, é apenas isso que o olhar de vocês vê?
Na sala se fez silêncio. Cada um de nós passou a ter receio de dar mais uma opinião. Para nós, aquela folha em branco era apenas uma folha de papel em branco. Mais nada.
A experiente mestra, no entanto, não questionou as nossas respostas. Apenas disse: “todos nós temos pontos de vista diferentes uns dos outros, porém, na maioria das vezes, por acomodação ou conveniência, não procuramos aprofundar o nosso olhar, abrindo um leque de possibilidades para aquilo que nós vemos. Assim, quando ouvimos a primeira resposta, e ela nos parece plausível, nós a aceitamos como sendo o retrato fiel de nossos conceitos, também”.
Eu não sei bem o que me deu. Só sei que aquelas palavras – ditas com uma entonação de voz que transmitia serenidade e conhecimento – me fizeram ver a necessidade de mudanças no meu comportamento de educador e de ter, com isso, um olhar mais atento para as particularidades existentes em cada prática e em cada registro reflexivo de cada uma das professoras cursistas do programa.
No fim, eu disse que a frase, ouvida na missa, nos mostra o quanto nós cometemos injustiças com o nosso olhar de aparente autoridade naquilo que desempenhamos. É muito mais fácil julgar, alterando futuros com o seu breve olhar, do que procurarmos, nos detalhes, o início de uma desconstrução que possa, a partir dela, construir uma ressignificação e atribuir um novo olhar ao mundo. Esquecemo-nos, pois, da luta árdua daqueles que se prontificam a enfrentar os desafios – mesmo sabendo que encontrarão inúmeras dificuldades pelo caminho – e que passam a confiar, solenemente, que nós estamos ali apenas para ajudá-los e não para puni-los na caminhada.
E se fôssemos nós a sermos julgados por um olhar punitivo?
Assistindo, domingo passado, à celebração da Santa Eucaristia, na hora da homilia, o padre disse uma frase que me fez pensar: “antes de apontarmos para os ciscos dos olhos dos nossos vizinhos, olhemos primeiro para as nossas travas”.
Confesso que essa frase me surpreendeu. E me fez trazê-la para a minha realidade. E, mais precisamente, para a profissão em que eu atuo. Digamos que a riqueza dessas palavras só poderia ter sido pronunciada num momento de fé, de comunhão com o Espírito Santo de Deus.
Explico: tanto essa semana que passou bem como esta semana em que estamos foram - e estão sendo - duas semanas de estudos voltados para o olhar que nós temos para com os nossos discípulos. Nesse olhar, nós comprovamos aquilo que o programa - para o qual trabalhamos no momento - exige que seja contemplado. Assim, diante das dificuldades de se alcançar determinados objetivos, nós apenas consideramos o nosso olhar intransigente - aquele que pune - e que não nos deixa ver as subjetividades existentes por trás de cada professor cursista que se esforça para ultrapassar limites e consegue – mesmo que lentamente –, galgar mais um degrau na caminhada para a sua formação.
Por isso, eu socializei, em meio às discussões, primeiro, a frase do padre. Depois eu pedi que a trouxesse para o nosso dia a dia, e ouvi, por parte dos colegas formadores, suas opiniões a respeito do assunto.
“O olhar pedagógico deve ser aquele em que contemplamos um universo maior de possibilidades, dentro da prática do ensinar, e que nos permite ver, nos detalhes, cada progresso por trás de uma visível dificuldade metodológica”, disse-me a psicopedagoga Socorro Gurgel.
Sim, confirmei. É verdade o que ela, sabiamente, falou. Quando direcionamos o nosso olhar para enxergarmos, também, além das exigências - e dos pré-requisitos que cada formação nos impõe -, nós passamos a ver novos horizontes de possibilidades e, aí sim, podemos direcionar nossos esforços para, de fato, combatermos as deficiências que cada professor, individualmente, carrega consigo.
Em seguida, a professora nos mostrou um papel ofício em branco e perguntou o que nós víamos. Um por um, cada professor daquela sala, foi dizendo o que apenas o seu olhar prático – e punidor – observava. Um disse que era apenas uma folha em branco; outro, que era uma folha em branco com um ponto preto no meio dela. E assim, a cada resposta de todos, nós apenas ratificávamos o que o professor anterior havia dito. Mais uma vez, a professora nos fez ver a folha em branco com o ponto preto no meio. E nos perguntou, para instigar a nossa criatividade: mas, é apenas isso que o olhar de vocês vê?
Na sala se fez silêncio. Cada um de nós passou a ter receio de dar mais uma opinião. Para nós, aquela folha em branco era apenas uma folha de papel em branco. Mais nada.
A experiente mestra, no entanto, não questionou as nossas respostas. Apenas disse: “todos nós temos pontos de vista diferentes uns dos outros, porém, na maioria das vezes, por acomodação ou conveniência, não procuramos aprofundar o nosso olhar, abrindo um leque de possibilidades para aquilo que nós vemos. Assim, quando ouvimos a primeira resposta, e ela nos parece plausível, nós a aceitamos como sendo o retrato fiel de nossos conceitos, também”.
Eu não sei bem o que me deu. Só sei que aquelas palavras – ditas com uma entonação de voz que transmitia serenidade e conhecimento – me fizeram ver a necessidade de mudanças no meu comportamento de educador e de ter, com isso, um olhar mais atento para as particularidades existentes em cada prática e em cada registro reflexivo de cada uma das professoras cursistas do programa.
No fim, eu disse que a frase, ouvida na missa, nos mostra o quanto nós cometemos injustiças com o nosso olhar de aparente autoridade naquilo que desempenhamos. É muito mais fácil julgar, alterando futuros com o seu breve olhar, do que procurarmos, nos detalhes, o início de uma desconstrução que possa, a partir dela, construir uma ressignificação e atribuir um novo olhar ao mundo. Esquecemo-nos, pois, da luta árdua daqueles que se prontificam a enfrentar os desafios – mesmo sabendo que encontrarão inúmeras dificuldades pelo caminho – e que passam a confiar, solenemente, que nós estamos ali apenas para ajudá-los e não para puni-los na caminhada.
E se fôssemos nós a sermos julgados por um olhar punitivo?
Nota do autor: esta crônica é uma reedição.