A Placa de “Vende-se”
Não sei por que falar da brevidade da vida me instiga tanto. Antes de culpar a leitura de “As Cartas de Sêneca a Lucílio” por tal fato, detenho-me a um pequeno, porém significante evento que me ocorreu estes dias. Refiro-me a angustiante sensação que senti por passar na casa onde viveram meus avôs e perceber na parede uma discreta placa, onde podia-se ler “Vende-se”. Aquilo me fez perceber como a nossa permanência nesse mundo é limitada.
Meu avô, com seus 77 anos de idade, faleceu em julho de 2010 e minha avó permaneceu na casa durante mais um ano, até quando veio a morrer em agosto de 2011. Viveram ali durante anos, desde quando eu nem lembro. Apesar das doenças e das dificuldades pelas quais foram submetidos por grande parte de sua velhice, sempre cativaram um sorriso nos lábios e uma vontade incessante de viver. Reclamavam das dores, mas celebravam alegremente os momentos simples e valiosos como as tardes em que a família se reunia ou que uma visita lhes batia à porta, ou o dia do pagamento do salário da aposentadoria, ou até mesmo a hora do Jornal Nacional. Enfim, aquele casal da Rua Eugênio de Vasconcelos, mostrava para quem os observassem que a vida era o “agora”. A vida é o momento que se passa.
Por incrível que pareça só me dei conta disso esses dias. Quando percebi que eles não estão mais nesse mundo. A vida passa e nos leva para além de onde podemos enxergar, como fez com eles. Aquilo que cativamos enquanto vivos, de nada nos servirá. A nossa casa, espaço onde construímos e vivemos nossos sonhos durante anos será palco onde brilharão outros seres. E de onde estivermos teremos que assistir alguém centrar-se num ponto e fixar nela uma placa escrita “vende-se”.